Seja você mesmo

O sonho de realizarmos nossas potencialidades nos impulsiona a correr atrás dos nossos desejos, mesmo aqueles mais escondidos que não ousamos contar a ninguém. Viemos ao mundo para sermos tudo o que pudermos ser, e não é raro que alguém procure a psicanálise justamente com a ideia de se aprofundar até descobrir quem seria em seu âmago, para em seguida, autorizar-se a se soltar, revelar-se e viver quem se é.

Saber quem somos é uma das ocupações mais complexas e extraordinárias, a grande razão de todas as coisas em que nos conectamos ao longo de nossa existência, a base da construção de nossas próprias histórias, e por assim ser, deveríamos nos ocupar cada vez mais em ativar esta conexão com nós mesmos, descobrindo sempre e continuamente quem somos.

Estar conectado nesta atividade nos ajuda a saber onde queremos estar, e dependendo da qualidade da escuta de nós mesmos, conseguiríamos vivenciar cada conquista exatamente por estarmos nesta profunda conexão com nós mesmos.

Todas as funções se mantêm interligadas num esforço contínuo de construção diária que começa dentro de nós, mas diante do mundo em que vivemos, somos permanentemente empurrados para fora desta conexão numa correria desmedida do dia a dia, às vezes querendo o que está fora, esquecendo do que está dentro.

A consequência deste modo de funcionamento são as somatizações, a depressão, a angústia, as paranoias, os medos, entre outros sintomas.

Quando nos escutamos, aprendemos muito sobre nós mesmos, e para que isto aconteça de maneira a sabermos sobre nós, é necessário que a escuta seja qualificada, límpida, sem imposições.

Não adianta sermos o que os outros querem que sejamos, precisamos ser quem desejamos ser, quem somos desde sempre... mesmo que às vezes ainda escondido. E para que isto seja uma rotina, uma construção em nossa vida, precisamos desejar nos escutar, sermos nós mesmos.

Freud dizia: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Será mesmo que devíamos?

Olhe para dentro, para as profundezas, e aprenda primeiro a se conhecer, a saber quem você é.

Este texto foi escrito ao som da música “Al outro lado del Rio” de Jorge Drexler.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©