Seis de junho, 1.944

Terça-feira. Seis de junho. Mil novecentos e quarenta e quatro. Faltavam poucos minutos para a sexta hora do Dia D, aquele que passaria para a História como «O Mais Longo dos Dias». A sentinela na casamata, praia de Omaha, não acreditava naquilo que tinha diante de seus olhos. Estava para acontecer a maior invasão, por terra, da História Universal. No horizonte, uma faixa escura, sólida, composta por embarcações, lado a lado, muito próximas umas das outras, como se fosse um todo, ombro a ombro, um bloco sólido.
 
Ao avistar a cena recém-surgida, a sentinela, alojada na casamata, imediatamente, deu o alarme. Apanhou o fone ali instalado e, com a voz esganiçada de quem está desesperado, vociferou a seu interlocutor, aninhado no comando:
 
— O inimigo está aqui! Vem chegando! Deve ter umas cinco mil embarcações vindo para cá! Cinco mil! Todos no horizonte!
 
— Que é isso, rapaz? Nosso inimigo não tem mais de duzentas embarcações!
 
O tenso diálogo durou segundos. 
 
Em seguida, os aliados começaram o desembarque na Normandia. Era o significativo acontecimento do grande épico da Segunda Guerra, o Dia D. Com coragem e determinação, estavam sendo implantados os alicerces da vitória dos Aliados na Frente Ocidental. Era o início do fim da terrível praga deletéria, a IIWW, a segunda guerra mundial! Essa guerra estava sendo disseminada por uma das mais monstruosas figuras humaniformes de todos os tempos, responsáveis por sem-número de crimes contra a humanidade. De quando em vez, o mundo passa por isso: vira palco de ações como a do Bin Laden, do Átila, do Stalin, do Pol Poth, do Joseph Kony.    
 
No centro do local denominado Green Dog, robusto ninho de metralhadoras estava oferecendo significativa resistência por parte dos «chucrutes»!  Em decorrência — desesperado, tomado por medo avassalador — um dos aliados pega o telefone de campanha e liga para o alto comando, aos berros, apressadamente como se tivesse medo de perder a coragem:
 
—— Pelo amor de Deus! Não há um cérebro que funcione aí no comando? Não há? Essas metralhadoras estão nos transformando em cadáveres! Vocês não estão vendo isso? Nem mesmo ouvindo esse terrível matraquear?
 
Suas palavras estavam se desfazendo em angústia. O interlocutor, alojado no comando, decidido a jamais permitir que minassem sua autoridade, indaga:
 
— Você sabe com quem está falando?
 
— Não! Não sei! — bradou o da praia!
 
— Aqui quem fala é o General Dwight David Eisenhower, Supremo Comandante das Forças Expedicionárias Aliadas na Europa!
 
Ah! Foi aí que o da praia, enfático, devolveu a pergunta:
 
— E o senhor? Por acaso, o senhor sabe com quem está falando?
 
— Não! Não sei!
 
— Ainda bem.
 
E desligou.

Autor

Marcílio Dias
É advogado e articulista de O Regional.