Saúde Mental: olhe para você

Sabemos que em qualquer processo terapêutico é esperado o momento em que o paciente se depara com suas mazelas internas, com aquilo que ele não consegue mudar e que atrapalha sua vida cotidiana.

Depressão, psicose, ansiedade, euforia, inconstância, oscilações, estão cada vez mais frequentes na vida de muitos, sinalizando que a saúde mental representa parte fundamental do esqueleto humano, e que enquanto não estão harmonizados e não nos permitimos pensar e fazer algo por isto, sofremos o seu descompasso.

Os números de suicídio, depressão, abuso de drogas lícitas e ilícitas aumentam a cada ano que passa, nos chamando a atenção para uma crise instalada numa sociedade de consumo, e nos faz crer que mesmo produzindo e conseguindo gerar frutos, se a mente não está bem, sofremos de falta de saúde mental independentemente da classe social e do quanto produzimos.

Diante disto, ficamos sem parâmetro para pensar o que de fato acrescenta e o que atrapalha a manutenção de nossa saúde mental porque em todas as classes e níveis de contentamento material e de posse existem pessoas com grande sofrimento mental.

Numa sociedade onde é esperado que estejamos bem e felizes, olhar para o adverso, estar triste, se sentir desamparado parece “atrapalhar”, nos fazendo concluir que enquanto não nos damos conta que todos os sentimentos são partes integrantes da mesma estrutura,

continuaremos a andar em círculo, buscando fora o que deveríamos buscar dentro, colocando em risco o nosso próprio “eu” diante da falta de integração que padecemos e que nos faz buscar compensações e alívio imediato na tentativa de minimizar os sentimentos e dores que indevidamente pensamos serem os responsáveis por atrapalhar nossa saúde mental.

Para estarmos conectados com todos os aspectos que estão interligados no corpo, a saúde mental representa o grande elo capaz de respaldar todas as situações que enfrentamos ao longo da vida.

Negar a dor, o luto, o sofrimento, o descontentamento, a angústia, os medos, não pensar sobre eles, inviabiliza termos saúde mental e nos faz permanecer numa sociedade que dificulta o desenvolvimento de nossas próprias capacidades e habilidades, estas que nascem a partir da possibilidade de podermos olhar para dentro a fim de nos conhecermos e sabermos quem somos, o que queremos e o que realmente necessitamos.

Com medo de sofrer, nos fechamos para as relações mesmo sabendo que amar é estabelecer vínculos com os outros e não com o próprio narcisismo.

Na verdade, ter saúde mental é integrar todas as partes que compõem nossa individualidade, pensar sobre as alegrias, dores, tristezas e frustrações, e principalmente abrirmos uma possibilidade real de conversa interna a fim de sabermos quem somos e onde queremos estar, estando a partir de então capacitados para estabelecer vínculos fortes e duradouros com quem desejamos.

A saúde mental agradece!

 

Este texto foi escrito ao som da música “Autumn Leaves”, de Chet Baker.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @zogheibclaudia, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©