Roubaram o meu afeto

A causa da cleptomania ainda é desconhecida, mas os fatores de risco incluem histórico familiar podendo ocorrer com mais frequência em mulheres.

Trata-se de um transtorno do controle de impulsos que resulta em um desejo irresistível de roubar itens que não são necessários e geralmente possuem pouco valor. As consequências podem incluir perda de emprego, multas financeiras e problemas com a lei, sendo importante tratar com psicoterapia que pode ajudar a interromper o ciclo de roubos compulsivos.

Para a psicanálise esse é um mecanismo de auto compensação de origem psíquica e pode começar na infância, no momento em que o indivíduo se percebe em um contexto de falta de afeto, gerando uma ansiedade desenfreada que culmina no desencadeamento da situação patológica na qual prefere ser punido a ser ignorado. Tal comportamento é acompanhado habitualmente de um estado de tensão e excitação crescente antes do ato, e de um sentimento de satisfação com alívio de ansiedade durante e imediatamente após sua realização.

Winnicott foi um pediatra e psicanalista que se debruçou a estudar a infância. Ele dizia que a criança que rouba algo não deseja o objeto roubado, e sim a mãe sobre a qual acredita ter direito. Para ele a cleptomania é designada como roubo impulsivo, um mecanismo de auto compensação de origem psíquica que pode começar na infância, no momento em que o indivíduo se percebe em um contexto de falta de afeto gerando uma ansiedade desenfreada que culmina no desencadeamento da situação patológica na qual prefere ser punido a ser ignorado porque se sente olhada. Ao mesmo tempo sabemos que a punição é uma medida ineficaz porque não promove entendimento e nem mudança, pelo contrário, afasta a criança do afeto sentida por ela como falta.

Refletir sobre a cleptomania implica analisar os fatores externos e internos com os quais a pessoa se encontra, sendo importante tratar para entender os gatilhos emocionais e de desamparo que fazem com que a pessoa persista neste comportamento, que se não tratados podem interferir no aprendizado e na puberdade dificultando o entendimento da castração, podendo dificultar o favorecimento do sentimento de pertencimento e vivência em sociedade que possibilitam o fortalecimento de um superego enquanto instância portadora de ideais.

Talvez este comportamento esteja no contorno onde os afetos não circulam, mas paradoxalmente exista carinho, ou mesmo debaixo dos afetos, dentro do enigma dos laços familiares.

Não se trata de ter muito ou pouco, mas do sentimento que lhe roubaram algo como pressuposto da afetividade na família.

Música “I Only Have Eyes For You” com Caetano Veloso.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br