Revista Feiticeira de Catanduva

Ao longo de sua história, Catanduva contou com a publicação de inúmeras revistas, algumas circulando por mais tempo, outras sendo apenas passageiras.

Dentre as diversas revistas locais, uma se destacou pelos longos anos de circulação e pela qualidade das publicações: a revista Feiticeira, de propriedade do Sr. Augusto Gimenes, que percorreu a cidade de Catanduva entre os anos de 1964 a 1988.

A revista, de circulação trimestral, contava com uma diversidade de artigos sobre temas relacionados à Catanduva e região, como festas, casamentos, aniversários, comemorações políticas, lojas, indústrias, poesias, crônicas, assuntos nacionais e locais, horóscopo, Cantinho Feminino – espaço destinado às mulheres – entre outros.

De início, como o Sr. Augusto Gimenes não possuía formação em Jornalismo, a revista ficou sob responsabilidade de um dos grandes nomes ligados a imprensa catanduvense: Carlos Machado, que se destacou em vários segmentos de nossa cidade, como na política, por exemplo.

Posteriormente, com a formação jornalística de seu proprietário, a revista passou a ser assinada sob sua responsabilidade, sendo conhecida esta etapa como a segunda fase da revista.

Dentre seus colaboradores, podemos destacar: Luiz Carlos Rocha, Olga Amorim, Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, Julio Cesar Marino, Décio M. H. de Mello, Dr. Alcy Gigliotti, Aledino Gandini, Dr. Alberto Lahós, José C. Buck e Carlos Machado.

A última publicação da revista se deu em setembro de 1988, totalizando 98 publicações. O Centro Cultural e Histórico Padre Albino contém a coleção completa da revista em seu acervo.

Surgimento

Sobre a ideia da fundação da revista, nada melhor do que nos remetermos às palavras de seu proprietário.

Em 1983, nas comemorações dos seus 19 anos, a revista Feiticeira realizou uma belíssima exposição no SENAC, que contou com a presença de várias autoridades.

Dentre os que fizeram uso da palavra, o Sr. Augusto Gimenes discursou sobre a fundação e a ideia de se criar a revista Feiticeira. Segue trechos do discurso:

“(...) Gostariam os presentes e amigos de saberem os motivos que há 19 anos nos levaram a lançá-la como um complemento à imprensa de nossa cidade, justamente num dos momentos mais críticos da história do nosso país, ou seja, 1964, logo após a revolução de março, quando a Nação tateava ainda, procurando seus novos caminhos.

Havíamos ingressado na imprensa de Catanduva, mais propriamente para o aprendizado das artes gráficas em 1935, na tipografia do jornal A Cidade, então de propriedade de João Celestino da Costa. Mas a paixão pela imprensa já nos atacara alguns anos antes, quando vimos um nosso trabalho escolar publicado no Correio Juvenil, um suplemento literato do grande jornal que foi o Correio Paulistano.

Nós ligamos, então, ao redator do jornal A Cidade, o Carlito Machado, para nós, a maior figura do jornalismo catanduvense e, em seguida, ao nosso gigantesco homem de imprensa, Nair de

Freitas, de fato e de direito o criador de uma escola de jornalismo e de uma filosofia de jornal em nossa cidade.

E foi no jornal A Cidade que ensaiamos alguns materiais, no setor esportivo, mais propriamente de futebol.

Alguns anos depois, nosso contato com o outro grande idealista, Mozart da Costa Nunes, que em 1934 havia publicado sua primeira edição da revista O Século. E com Mozart, com sua grande paixão pela imprensa e pelo seu grande apego aos ideais de servir Catanduva através da imprensa, nasceu também o nosso gosto por essas coisas.

Em 1957, já de posse de nossa tipografia, adquirida em 1955 e querendo seguir os passos de nossos mestres que faziam a imprensa sua própria razão de viver, lançamos o Catanduva Jornal Esportivo, semanário tipo tablóide, com a aquiescência de Carlos Machado, que havia fundado o Catanduva-Jornal há alguns anos passados. O propósito era dar colaboração ao nosso futebol, pois o Catanduva Esporte Clube disputava com grande sucesso a Segunda Divisão e ainda procurar o reerguimento do basquete, já que o nosso Cruzeiro Cestobol Clube estava parado e em séria crise. Mas o Catanduva-Jornal Esportivo não duraria mais que um ano, pois os nossos principais esportes – futebol, basquete e atletismo – mergulharam em sérias crises com paralisações quase total de suas atividades.

Mozart da Costa Nunes continuava com sua revista O Século e em seu editorial, na edição Nº 31, de 14 de abril de 1957, chamou-nos a atenção. Mozart mostrava-se cansado. De fato, estava doente. Nesse artigo, parece que Mozart queria nos dar um recado, pois ele dizia: “Procuramos um homem. Um homem jovem, cheio de saúde, disposto e ativo – como éramos no ano de 1934. Encontrando-o, será o nosso seguidor, se Deus quiser”. Precedendo este final, afirmava Mozart: “Vimos oferecendo nosso lugar, porém quem o aceitar precisará fazer um sacerdócio. Precisamos nos afastar das lides, que apesar de árduas, são nossa vida. Mas, havendo de encontrar um abnegado que não deixe a sua cidade sem uma revista”.

Mozart morreu vitimado por ataque cardíaco, menos de um ano depois desse editorial, no dia 02 de julho de 1958. Em 5 de junho de 1964, ou seja, seis anos após o desaparecimento de Mozart, fundamos, após longos estudos e planejamentos, esta revista, que absolutamente não levava a pretensão de substituir O Século, do Mozart, mas apenas dar continuidade a uma tradição de Catanduva, onde já se haviam publicados várias revistas como Seara, Sursum, O 14 de Abril e algumas outras.

(...) E as três figuras exponenciais de jornalismo genuinamente catanduvense – Carlito, Nair e Mozart, as homenagens e a gratidão desta revista por terem-lhe aberto o caminho e mostrado o rumo a trilhar, que embora árduo e cheio de obstáculos, dá-nos a imensa gloria de podermos servir nossa cidade (...)”.

Fonte de Pesquisa:

- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, Ano VI, Nº 62, de fevereiro de 2011.

- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

Capa da primeira revista Feiticeira, circulando em junho de 1964. Nela, temos a figura de Mariluci Facci, a “feiticeira desta capa”, segundo a revista

Último exemplar da revista Feiticeira, de setembro de 1988, totalizando 98 publicações em toda sua história. Nesta capa, destaque para o Sr. Ramon Nobalbos, em comemoração aos 50 anos da Tipografia Ipiranga

Logo no início da revista, como o Sr. Augusto Gimenes, seu proprietário, não possuía ainda a formação em Jornalismo, a revista ficou sob direção de Carlos Machado (foto), grande nome ligado à imprensa e à política catanduvense

Um dos maiores nomes ligados à imprensa catanduvense é o do jornalista Nair de Freitas, que por muitos anos esteve à frente do Jornal A Cidade e colaborou para o surgimento de inúmeros outros jornais e revista

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.