Revista Agrícola de Catanduva

É interessante notar como que as publicações, sejam elas livros, jornais ou revistas, expressam o cotidiano de onde são publicadas, levando em consideração as questões de tempo e espaço.

Hoje em dia, é comum vermos circular em nossa sociedade publicações que tratam dos mais diversos assuntos, todos, ou pelo menos a maioria, relacionados com o nosso modo de viver e costumes.

Em épocas passadas também era assim. Muitas publicações tratavam de assuntos que faziam parte do cotidiano de nosso pequeno povoado, principalmente no que se refere à questão da agricultura, já que naquela época a população rural era maior que a urbana.

Nesse sentido, temos uma “publicação relíquia”, contida no acervo do Centro Histórico e Cultural Padre Albino, que é a Revista Agrícola de Catanduva, publicada no ano de 1925.

Sobre essa revista, relembrou Alcy Gigliotti, em uma entrevista dada a Revista Feiticeira em março de 1974, onde traz que “(...) me lembrei então de uma revista preciosa que conservo desde há muito, por razões sentimentais: meu pai, Paschoalino Gigliotti, então fotógrafo profissional, dela participou – a Revista Agrícola de Catanduva, organizada pelo jornalista Gualtiero Mori e publicada em fins de 1925, com um sem número de informações e notas de interesse para os que pretendem conhecer melhor o cidade em que vivem”.

Nossa revista

A publicação de 1925 era a segunda edição da revista, que já tinha tido uma primeira publicação intitulada de Revista Agrícola de Olímpia.

O principal objetivo das publicações, segundo a própria revista, era “(...) divulgar, através de uma série de publicações, assuntos referentes à riqueza agrícola, ou melhor, a riqueza cafeeira de outros municípios de nosso grande Estado”.

A revista, organizada a partir de moldes diferentes da época, teve grande cuidado na investigação da veracidade das fontes, divulgando dados, estatísticas e assuntos agrícolas. As revistas menores serviriam como base para a publicação da Revista Agrícola do Estado de São Paulo, a qual se dividiria em seções, constituídas pelos municípios paulistas.

Importância de dados

Um dos fatores mais importantes que a revista proporcionou para a época e para a atualidade é uma série de dados que a revista nos trouxe, referente ao ano de 1925, nos quais relato alguns a seguir:

- Dados Geográficos: A área de Catanduva era de 500 quilômetros quadrados, sendo a altitude média sobre o nível do mar de 500 metros. A superfície é formada, na sua totalidade, por um grande número de colinas ou espigões bem disfarçados, causas da diversidade e beleza de seus panoramas.

- Vias de Comunicação: “Serve o município a Estrada de Ferro Araraquara, que tem estação na sede a 476 quilômetros da Capital. A municipalidade, seguindo uma norma de orientação que em muito tem beneficiado a população, serve a população com a construção de boas vias”. Na época tinham sido entregues ao tráfego público 140 quilômetros de estradas de automóveis, que eram muito movimentadas. O município possuía 596 automóveis e 650 outros veículos.

- População: De 12.000 habitantes, em 1916, tinha em 1925, 25.000 habitantes, dos quais 6.500 residiam na cidade. A cidade, no que diz respeito à construção de prédios, tinha uma média de 8 a 9 prédios por mês. A cidade tinha em 1916, 226 prédios; 372, em 1918; 750, em 1924; e 1.084 até setembro de 1925. Possuía rede telefônica, e, entre os benefícios públicos, contava com Grupo Escolar, Igreja, Clube Recreativo, Jardim Público, Teatro, etc.

- Dados Administrativos: Criada em 1917, Catanduva foi elevada em Comarca em 1919, pela Lei Nº 1.675 B, de 09 de Dezembro. Compreendia o município de Tabapuã, ao qual se juntaram, mais tarde, Ariranha e Ibirá. A instalação da Comarca realizou-se em 07 de fevereiro de 1920, com grandes e pomposas festas, estando presente o Dr. Cândido Motta, secretário de Agricultura. Foi nomeado juiz de direito o Dr. Raymundo Cândido Mergulhão Lobo e promotor público o Dr. Adalberto Exel.

- Imprensa: Naquela época, contava Catanduva com três semanários: o “Comarca de Catanduva”, “A Renascença” e o “Bataclan”.

- Catanduva agrícola: “Mais, porém, que em qualquer outro ramo da atividade comercial, o movimento agrícola de Catanduva é extraordinário. Não há, a bem dizer, terreno inútil no município e na Comarca. O solo produz maravilhosamente e é aproveitado com amor, inteligência e método. O café, como em todo São Paulo, é a principal riqueza do município. São Mais de 14.000.000 os cafeeiros plantados”. Para se ter uma ideia do crescimento do café, basta fazer uma comparação: em 1919-1920, tínhamos um total de 1.786.500 cafeeiros; já em 1924-1925, esse úmero saltou para 10.000.000.

- Indústria e Comércio: A revista trazia uma lista de estabelecimentos industriais e comerciais que se destacavam em Catanduva naquele ano. São eles: Ramon Sanches & Cia; Mário de Souza Pinto & Cia; Domingos Phelippe & Minervino Ltda; C. Mello & Cia; Emílio Barrionuevo & Cia; Theodoro Rosa & Maffei; Jayme P. Rodrigues & Cia; Stephane & Malluff; Joaquim da Silva Ferraz; Jacob Pajor & Filho; Salim & Salomão Izar; Soubhia e Cia; Stocco & Barberio; Angelo Moretim & Irmão; Rubio e Cia.

Agradecimentos

No final da revista, esta trazia um agradecimento a todas as pessoas que auxiliaram nos trabalhos, bem como todos os fazendeiros de Catanduva, os senhores prefeitos municipais de Catanduva e Tabapuã, o Sr. Secretário da Câmara e vária outras pessoas.

Um agradecimento especial foi deixado ao Sr. Ricardo Lunardelli, “(...) inteligente e adiantado fazendeiro de Catanduva e Olímpia, que com a gentileza única que o caracteriza, acompanhou-nos em várias de nossas visitas às suas propriedades agrícolas, prestando-nos pessoalmente, valiosos dados sobre ela e o sobre o desenvolvimento geral da Comarca”.

Fonte de Pesquisa:

- Revista Agrícola de Catanduva, volume de 1925.

- Revista “Feiticeira”, ano VIII, Nº XL, de março de 1974.

- Material consultado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino.

Fotos:

A Revista Agrícola de Catanduva é uma fonte histórica muito interessante para nós pesquisadores, pois além de trazer uma série de dados importantes, ela também é rica em imagens, tanto da zona rural como do meio urbano

De 12.000 habitantes, em 1916, Catanduva tinha, em 1925, 25.000 habitantes, dos quais 6.500 residiam na cidade

O café, como em todo São Paulo, era a principal riqueza do município em 1925. Eram mais de 14.000.000 os cafeeiros plantados. Para se ter uma ideia do crescimento do café, basta fazer uma comparação: em 1919-1920, tínhamos um total de 1.786.500 cafeeiros; já em 1924-1925, esse número saltou para 10.000.000

Um agradecimento especial foi deixado ao Sr. Ricardo Lunardelli pela Revista Agrícola de Catanduva, “(...) inteligente e adiantado fazendeiro de Catanduva e Olímpia

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.