Repeteco

Tem coisas que só acontecem quando o ano vai acabando. As ruas ficam intransitáveis. O comércio lota. Pior é tentar achar o presente que você quer comprar. Se for da moda, pode ter certeza que já se esgotou. A mídia repete os cacoetes de sempre: retrospectivas do ano e as previsões para o ano novo, feitas por videntes de toda espécie. Gostaria que saíssem reportagens do tipo: “previsões que não se concretizaram”.

Particularmente, eu só presto atenção em dois itens: os novos lançamentos de panetones e as listas dos melhores de algum segmento, que sempre requentam alguma polêmica. Semana passada, topei com uma sobre os melhores filmes de todos os tempos. Não tenho formação em cinema. Sou apenas um consumidor voraz de filmes. Assisti muita coisa. De todo jeito. Cinema, TV, videocassete, DVD, telão, computador e até no celular.

Também faço minhas listas. Os filmes precisam atender a alguns critérios leigos que eu criei. O primeiro, óbvio, é eu ter gostado. Nunca ouvi alguém dizer “não gostei, mas é o melhor filme que já assisti”. O segundo, critério é eu ter entendido o filme. Detesto filme “cabeça” que acaba repentinamente, sem mais nem menos, sem resolver a trama. Aí você pergunta para as pessoas se entenderam e elas começam a rir. Que alívio! É perda de tempo um roteirista chapado ter a pretensão de que as pessoas entendam as “viajadas” dele. O terceiro é que eu tenha assistido o filme mais de uma vez. Decidi descartar o critério “número de vezes” em que assisti um filme. Disparariam na liderança com mais de 20 vezes o “The Blue Brothers – Os Irmãos Cara de Pau” (1980) “Os caçadores da arca perdida” (1981), “Rocky: um lutador” (1976) e “Star wars” (1977). Por este critério ficariam de fora por exemplo “O poderoso chefão” (1972), “O silêncio dos inocentes” (1991), “O guarda-costas” (1992) e “Forrest gump” (1994).

Dos mais antigos, gosto muito do “O homem que matou o facínora” (1962), para mim, o melhor de todos os tempos. Tem também “Dançando na chuva” (1952), “E o vento levou” (1939), “Os sete samurais” (1954) e “Casablanca” (1942). Até hoje não acho graça no “Cidadão Kane” (1941), campeão de audiência em boa parte das listas.

Faltam muitos filmes que gostei. Não caberia aqui a lista. Escrevi só os que a memória colaborou. Eu não perco o hábito de assistir reprises. Se eu topo na TV com algum filme que eu gostei, não penso duas vezes, assisto novamente. Você relembra o filme e frequentemente observa detalhes que não tinha percebido. Sobre panetones, não há muito o que dizer. É diferente dos filmes. Gosto de todos. Pequeno, grande, com sabores, com chocolate, do jeito que vier. A prudência me impede de comer o tanto que eu gostaria. Paciência. Mas o melhor de todos são os de frutas cristalizadas. Palavra de padeiro: sempre merecerá uma reprise.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.