Reforma Íntima

"Seja a mudança que você quer ver no mundo" - Mahatma Gandhi 

A mudança é um anseio generalizado no Brasil, o que se explica pela sensação - também generalizada - de que as coisas não vão bem, ou poderiam estar melhores. São poucos os que se dizem satisfeitos, e a lamentação acaba sendo uma prática cotidiana, seja por causa da situação econômica, política, da violência, da miséria ou da estupidez e maldade alheia.

É muito raro que uma pessoa pregue ou proponha a mudança em si. O que está errado, o que precisa melhorar é, basicamente, "o outro". E então vemos legiões de pessoas revoltadas contra o mal que elas enxergam fora de si e que existe e se reproduz por causa do comportamento alheio.

Sim. Se alguém reconhecesse a própria corresponsabilidade pelos males do mundo, certamente não perderia tempo apontando o dedo para os outros, e se dedicaria a corrigir os próprios erros. Poucos se conduzem dessa forma. Afinal é muito mais prático e confortável ter alguém para culpar.

Reclamar das injustiças dá menos trabalho do que se dedicar a ser justo. Lamentar a dor dos outros é bem mais confortável do que se dedicar a amenizá-la. Acusar a ignorância alheia é um modo malicioso de esconder a própria. Teorizar sobre o Amor oculta a própria dificuldade de vivê-lo.

Legiões de pessoas que se dizem cristãs condenando as que pensam de forma diferente à danação eterna no fogo do inferno. Essa idéia suspeitíssima de que quem não concorda comigo está errado, e essa convicção totalitária de que verdade é apenas aquilo que eu consigo enxergar: esses são os erros originais, do qual decorrem os demais. A partir dessa miopia surge a intolerância (outro termo para ódio...) para o que é diferente. Afinal, "Narciso acha feio o que não é espelho..."

Não há nada de intrinsecamente errado em desejar mudanças. Mas talvez o mais razoável seja aprender a lidar com elas. E, ao buscá-las, ter em mira sempre o bem de todos (e não somente os interesses pessoais) e, em vez de vomitar discursos, fazer a reforma íntima. Até porque não há discurso mais eloquente do que o exemplo.

Autor

Wagner Ramos de Quadros
É presidente da ARCOS e articulista de O Regional.