Reflexões sobre a moral

 

 

Um assunto que eventualmente entra nas discussões gerais, em especial a política, se dá no campo da moral e ética, porém, é um assunto que tem íntima relação com a postura política do sujeito, embora essa política dita não seja a mesma pela qual estamos imensamente desacreditados. 

O termo política tem suas origens ligadas à Pólis e como o cidadão deveria portar-se na cidade e como se dava sua relação às leis instituídas, dessa forma os valores socialmente aceitos foram sendo construídos e as regras de como agir sendo paulatinamente instituídas. Relacionando isso ao contexto da moralidade e da eticidade, podemos encontrar um valor moral muito estudado desde Aristóteles em seu livro 'Ética a Nicômaco', também muito aprofundado anos depois por André Comte-Sponville em 'Pequeno Tratado das Grandes Virtudes', vimos a justiça ser considerada a virtude que encerra nela todas as demais, pois, ao refletirmos dentro dos mais variados contextos, dentro das mais variadas necessidades de tomada de consciência, é necessário agir justamente, ou seja, uma justa medida deve ser pautada ante quaisquer ações. Uma ação ética e ao mesmo tempo moral. 

Mas, enfim, atualmente escutamos muito a ideia de valores invertidos e toda sua retórica política me fez refletir se estamos mesmo com valores invertidos, vamos lá... 

Uma das ideias relacionadas à moral é a característica temporal, ou seja, está relacionada aos modos e costumes definidos em uma determinada época e nos embasando nisso, podemos pensar, houve uma época em que era moralmente aceito escravizar, que era moralmente aceito que a mulher não devia ter direitos políticos. Portanto, se atualmente estamos rumando para a ideia dos direitos humanos e o seu respeito a eles e analisarmos friamente a ideia de valores invertidos, é justo afirmar que muitos que apontam isso, realmente estão vinculados a essas propostas discriminatórias e preconceituosas ou falta refletir sobre o contexto histórico geral?  

A respeito da ideia de valores, o estudioso Joseph Maria Puig descreve três tipos de valores morais - os absolutos, ou seja, aqueles em que são definidos e impostos através da coação aos demais. Exemplificando: um determinado grupo define como se deve viver, agir, pensar e etc. Está intimamente ligado ao moralismo. 

Temos os valores relativos, onde o que é válido para um, não necessariamente vale para o outro, não há equivalência ao coletivo. E, por fim, temos os valores morais socialmente construídos, aí está uma íntima ligação com a justiça e a justa medida, pois os valores morais são socialmente construídos e aquilo que vale para mim, deve valer para você e para o coletivo. A justa medida implica em agir para um bem coletivo, onde há equidade para todos. 

No geral, os valores moralmente aceitos devem ser aqueles em que há benefícios para o coletivo, desvencilhando das amarras de um saudosismo irrefletido, procurando uma sociedade onde reina a eticidade, isso em todos os campos da sociedade. 

Já a ética, em alguns campos de estudo, está relacionada ao bem viver, à busca da felicidade. Mas como buscar a eticidade quando a moral ainda não está bem estabelecida? Isso abre brecha para que haja muitos atos de corrupção e aqui não falo da corrupção de governos, mas a corrupção social. Somos exímios cobradores, porém, agimos de acordo ou na primeira oportunidade usamos o “jeitinho brasileiro”? Não restam dúvidas que é necessária uma tomada de consciência acerca da forma de agirmos, em especial, dentro da justa medida. 

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva