Reflexões no aeroporto

Aguardando no saguão de um aeroporto fiz algumas observações, cujas reflexões quero compartilhar nesta breve crônica.

No aeroporto vemos de tudo, pobres, ricos, brancos, pouquíssimos negros - ou nenhum... é o inverso das ruas, periferias, da vida real.

Mas o que mais vemos são pessoas inebriadas com estética. Não sei qual a relação, mas percebi isso.

Não falo apenas da estética de aparência física (embora também seja muito comum hoje, da classe média pra cima, a preocupação em moldar o corpo e o rosto em busca de uma imagem que a pessoa idealizou que gostaria para si mesma), mas com tudo que diz respeito ao parecer algo, que se é ou não é.

A divisão por grupos para embarcar coloca os seres humanos em categorias, e noto como algumas pessoas ficam felizes e satisfeitas em pertencer a um grupo de destaque (nossa, quanto destaque embarcar 3 minutos antes).

Notei duas amigas felizes, radiantes mesmo, não pela viagem (nem sei para onde iriam), mas sim porque foram avisadas que se uma delas estava na fila do grupo “vip” a outra poderia acompanhá-la.

Que felicidade concreta e perene!

Notei que embarcar no grupo vip, ou grupo 1 e até o grupo 2 seria aceitável. O restante é a sobra que não mereceu tanto privilégio na vida.

Talvez seja isso mesmo que muitas pessoas precisam, na falta de um conteúdo e de sentido da vida, alcançar um diferencial, algo que a distinga, entre tantas pessoas iguais e padronizadas.

Porém, no fim das contas, não me parece uma distinção relevante estar no grupo “vip” e não nos grupos 3, 4 ou 5, que era o meu, por sinal, pois todos chegaremos juntos, na mais sagrada igualdade. Na viagem e na vida, todos teremos o mesmo destino.

No fim das contas, mesmo com tal fictício destaque, vejo pessoas padronizadas, que só se sentem bem pertencendo a um modelo de aparência, gestual, rotina e preferências.

Todos tão diferentes, mas todos tão iguais.

Autor

Evandro Oliveira Tinti
Advogado, especialista em Direito e Processo do Trabalho pela EPD, mestrando em Direito e Gestão de Conflitos pela Uniara e coordenador da comissão de Direito do Trabalho da OAB de Catanduva, e articulista de O Regional