Receita contra o medo

O medo sempre prega suas peças. Faz com que vejamos monstros maiores do que realmente são. Cria muros que não existem, barreiras invisíveis que causam temor e sensação de impotência. Surgem barulhos e imagens improváveis, e até pensamentos absurdos. Quando é muito medo, tem-se o pavor.  

Medo em um dicionário qualquer: sentimento de inquietação perante um eventual perigo. Foi esse o foco de um artigo que assinei no já distante ano de 2006, em que abordei como temática a violência urbana que assolava o país – e ainda o faz.  

Naquele período, ataques do PCC, o Primeiro Comando da Capital, uma organização criminosa paulista, fizeram com que estabelecimentos comerciais fechassem as portas mais cedo, impediram ônibus circulares de rodar, entre outros transtornos.  

Recupero tal episódio porque ele demonstra outro reflexo do medo excessivo: o pânico. Pior ainda quando isso ocorre de maneira coletiva, tomando conta do sentimento de todos. Não se trata de um pânico qualquer – mas de uma histeria coletiva.  

Naquela ocasião, em 2006, em um breve caminhar pelas ruas escuras da cidade de Bauru, próximo das oito horas da noite, senti como se, a qualquer momento, uma bomba fosse cair sobre os prédios. Todos estavam escondidos em casa. Amedrontados.  

Pra relembrar: “Entrei rapidamente em um supermercado antes que fechasse. O olhar ao relógio era constante entre os funcionários do local. Todos sabiam que, após as 21 horas, nenhum ônibus passaria por ali. Próximo a mim, ao esbarrar em uma cesta de pães e derrubá-la ao chão, uma senhora exclamou, espontaneamente: nossa, vão pensar que sou terrorista”.  

A verdade é que o medo mexe com a mente das pessoas, faz com que fiquem trancafiadas em casa ou que fujam desesperadas – dependendo a ocasião. E quando a mente não é das mais controladas, a situação piora: têm-se medo até de ter medo.  

Um ser humano com medo é a pior das coisas, pois ele empaca, não supera obstáculos, nem mesmo tenta. O medo não deixa. Tem medo de ousar, arriscar, falhar. O corpo treme, o suor escorre pelas costas. Se bobear, terá medo do “novo”, da vitória e do que virá depois da meta alcançada.  

Para enfrentar o medo, é preciso pensar como super-herói e lembrar que todo monstro tem seu ponto fraco. Ou vários. Temos de enfraquecer o inimigo. E a cada golpe contra o medo, em passos rumo à superação, mais forte ficamos para encará-lo.  

Ao obter sucesso naquilo que se tinha medo, leva-se o medo a nocaute. Ganha-se força e confiança para enfrentar outros medos. E, assim, pouco a pouco, os medos vão ficando de lado, esquecidos debaixo da cama ou num tempo passado qualquer.

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.