Racismo recreativo e o desengajamento moral

É incrível observar como algumas pessoas se valem de “brincadeiras” para expressar seu preconceito e racismo em qualquer ambiente que seja. As justificativas que se valem quando são confrontados é sempre a mesma: “Mas foi só uma brincadeira”, “Ah! Quem me conhece, sabe que não sou racista!”, “Mas eu tenho até amigos pretos”, e as justificativas absurdas só crescem.

O pior ainda é a não aceitação e a falta de compreensão de pessoas que deveriam ser esclarecidas acerca do assunto, saindo pela tangente, como se esse assunto fosse algo que não merecesse a devida atenção e por muitas vezes, acompanhado e respaldado por pessoas de certa relevância no meio em que esses atos acontecem.

Albert Bandura estudou um fenômeno social e cognitivo que se chama, desengajamento moral, ou seja, é a capacidade do ser humano em afastar sua culpa de ações e comportamentos inaceitáveis, sob as mais pérfidas desculpas possíveis. É possível notar bem isso em um lançamento chamado “Zona de Interesse”, que a grosso modo, retrata um universo perfeito de um comandante nazista e sua família, que moral ao lado de Auschwitz.

É possível observar e ouvir sons de gritos, tiros e outros tantos elementos de horror, enquanto a família abstrai de todo o horror, como se a vida dessas pessoas não valessem nada. Não é difícil encontrarmos comportamentos similares a esses, além de outras estratégias, como as frases eufemísticas, que nos levam novamente ao início dessa reflexão. Em tantos ambientes, observamos tal recurso que tem como claro objetivo diminuir e/ou desprezar o outro, afastando a humanidade dessa pessoa, transformando-a em objeto descartável e sem valor humano.

O que mais me enoja, é que, ainda em 2024, é necessário apontar, abordar, discutir e ainda confrontar comportamentos racistas, aliás, nem considero como comportamento, mas sim como atitudes criminosas socialmente acatadas sob as vestes da brincadeira.

Vale trazer um dado estatístico: em 2024, os casos de injúria racial, racismo aumentou. Aí pergunto: até quando iremos ainda aceitar esses comportamentos passivamente? Volto ao paradoxo da tolerância: Devemos tolerar os intolerantes? Vale a pena a reflexão e a autorreflexão.

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva