(Quem matou) Odete Roitman?
Segunda-feira, 6 de outubro de 2025. Morre Odete Roitman, depois de ter sofrido um atentado, no Copacabana Palace.
O nome Odete significa “riqueza” ou “patrimônio”, adicionando o sobrenome “Roitman” cuja sonoridade remete à Língua Inglesa (Hot man – homem quente). A personagem de Débora Bloch, apenas, ressignificou o rito delineado pelo mito encarnado em tantos enredos da vida real. Assim, a mimesis aristotélica reorienta a presença do cronotopo (tempo e espaço) no cotidiano social e produz identidades consagradas. Isso significa que o remake de Vale Tudo (2025), escrito por Manuela Dias, evocou o mito de Odete Roitman, a partir do jogo de imagens de si e do outro. (Não é de bom tom comparar a versão de 1988 com a atual, pois uma obra literária frutifica em tempo específico). O jogo de imagens de si retrata a vida individual e coletiva de Odete Roitman: a chegada à TCA desmonta a mordomia corrupta de Marco Aurélio; o papel materno destrói o matrimônio de Afonso; o laço familiar com Celina endivida Raquel; o acidente, resultando na deficiência de Leonardo, é atribuído à Heleninha; a paixão por César reduz Maria de Fátima, e a morte da empresária produz suspeita. A modernidade, em Odete Roitman, é calcada na efervescência do sublime trágico, visto que a vilania troca de papéis com o heroísmo incisivo, uma tendência discursiva, na perspectiva da canonização do mito moderno. Quem já cruzou os caminhos de uma Odete Roitman? A resposta está no pretérito. Os israelitas presenciaram os horrores de Jezabel (853 a.C.). Os franceses que o digam, na “Noite de São Bartolomeu” (1572 d.C.). “Qualquer semelhança é mera coincidência!”. Se o caráter temporal é justificar o presente, o futuro se iniciou com o assassinato de “Charlie Kirk”, cujo principal suspeito redigiu: “Lembra que eu estava escrevendo em balas?”. O meme “OwO”, tipificando uma face assustada e olhos atônitos, é sinal de um rito solidificado na perspectiva do sucesso exacerbado, como essência das tragédias gregas. A última fala de Odete Roitman foi: “– Pra que essa barbárie? Vamos conversar! Meu bem, ninguém tem coragem de atirar em Odete Roitman!” O alvo é a busca pela saciedade e o assassinato é somente o início da vida mitológica, tendo em vista a luta pelo (des)fazimento do outro. Logo a morte é a alternativa de ocupar o espaço alheio, por meio do registro identitário, à luz de uma sociedade líquida, onde a desvalorização contínua fenece o belo e sugere a queda existencial. A tentativa de colonização omite a vontade de estar na outridade, como dizia Freud: “Ao falarmos dos outros, revelamos muito sobre nós, mesmos”. Quantas Odetes odiamos! Seria um jogo de imagens de si? O maior mistério da TV Brasileira está para ser desvendado: “Quem matou Odete Roitman?”. Quando a identidade do(a) assassino(a) for revelada, certamente nascerão memes, vídeos e inspirações que eternizarão o mito roitmaniano. Esta fala sempre estará em nossas (con)vivências: “– Pode avisar que Odete Roitman chegou!”.
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