Quem foi que disse

Ninguém aguenta mais tantos textos com falsa autoria disseminados pela Internet.

Sabe aquele filósofo que escreveu um texto bem meloso sobre a felicidade? Sabe aquele escritor consagrado que escreveu uma frase com expressões modernas que não existiam quando ele era vivo? Sabe aquele cientista que escreveu frases lindas de autoajuda? Pois é, tudo mentira.

Recebo diariamente dezenas de mensagens contendo frases, citações e textos. De todas as formas, em sites, por e-mail, WhatsApp ou Facebook. Entretanto, há muito tempo que desconfio da veracidade da grande maioria delas.

Geralmente os verdadeiros autores são pessoas sem nada para fazer e que se comprazem em ver suas inspirações circularem pela Internet. Sabem que a maioria dos internautas são inocentes úteis que não consultam fontes.

É até fácil fazer a coisa. Pega uma foto da celebridade e escreve uma frase qualquer em cima. Pode-se trocar a foto por uma bela paisagem. Pronto! Está feita a muleta autoral.

Para se ter uma ideia do incômodo, o Vaticano, cansado de ver tudo quanto é texto atribuído aos Papas, colocou em seu site oficial todos os escritos deles. Não constam lá frases supostamente atribuídas ao Papa Francisco: “Deus não usa Facebook”, “a Bíblia está ultrapassada” (esta recebeu até desmentido oficial), “Deus está mudando e evoluindo”.

O escritor argentino Jorge Luís Borges nunca escreveu o poema “Instantes” onde se lê que “trataria de cometer mais erros” e onde “andaria descalço por toda a primavera”. Eu ouvi este poema até em formaturas.

Adoniran Barbosa nunca escreveu “Se queres ser universal, canta tua aldeia”. Foi Leon Tolstoi em “A morte de Ivan Ilitch”. Já vi gente muito boa e culta se equivocar.

O coitado do Einstein nunca falou que “Não existe azar pois Deus não joga dados” ou que “Ele é a lei”, que não é enganador ou que gostaria de conhecer os pensamentos de Deus. Aliás, as posições do cientista a respeito de Deus eram bem peculiares e não se encaixavam em nenhuma religião ou rótulo teológico. Mas sempre o usam para justificar a religião através da ciência.

A coisa é tão feia que já existem as vítimas de sempre. Desconfiem quando lerem textos atribuídos a García Márquez, Pablo Neruda, Madre Tereza de Calcutá, Luís Fernando Veríssimo, Paulo Coelho e até ao confuso ex-big father Pedro Bial.

Mas a maior vítima das falsas autorias acredito que seja Sigmund Freud. Ele nunca disse “Quando Pedro fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”. Tem um texto enorme que termina com “a luz no fim do túnel”. Vocês acham que ele usou mesmo esta expressão? O pior de tudo é quando escuto a pior frase de todos os tempos. Quando algum infeliz não tem muito o que dizer ou quer difamar outra pessoa, usa a clássica “Freud explica”. Coitado. Ele deve revirar no caixão todo dia.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura