Quando o Carnaval chegar

O carnaval é uma festa que se reinventa constantemente. Chamo a atenção para alguns aspectos interessantes da festa.

Ano passado aconteceu algo até previsível. Em termos numéricos, teve mais blocos de rua em São Paulo do que no Rio de Janeiro, fenômeno que se repete este ano. Talvez a capital paulista não supere os cariocas em número de foliões mas ainda sim é bastante gente. Ambas andam na casa dos milhões. Houve uma época em que os blocos de rua sumiram e os foliões migraram para os bailes. Agora os bailes minguam e voltam os blocos de rua.

O conceito de trio elétrico se modificou. Antes, exclusivo do carnaval baiano, popularizou-se em todo o Brasil. Hoje, cantores de outros ritmos musicais contratam o caminhão de som e desfilam em cima cantando suas músicas, que por sua vez não tem absolutamente nada a ver com o carnaval.

Tem a feijoada do sábado de carnaval. Parece que é mais gostosa. Ainda mais se acompanhada com trilha sonora apropriada: marchinhas, sambas enredos atuais e de carnavais antigos e samba de raiz. É meu prato brasileiro preferido. Sou fanático. Tanto faz se na panela com tudo misturado ou nas cumbuquinhas com ingredientes separados. A do carnaval inaugura a temporada de feijoadas. Há alguns anos, eu conhecia todas as feijoadas da cidade. Infelizmente como muito menos do que gostaria. Culpa do bom senso e do sódio.

Outro aspecto pouco observado é que o feriado do carnaval é o mais prolongado do ano. Começa no sábado e vai até a manhã da quarta-feira de Cinzas. Em alguns lugares, emenda-se até o outro domingo. Aí vira um feriadão de nove dias. Dá para viajar. Pena que os preços das passagens de avião e dos hotéis sobem. Muitos acabam ficando em casa mesmo ou passeando pelas redondezas. Sempre aproveito feriados para faxinar alguma gaveta ou algum armário. É bom para ler algum livro ou terminar projetos atrasados. Carnaval rende bastante.

Um hábito consolidado que tenho e percebo com mais frequência entre amigos é o carnaval de sofá. Assisto o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, inclusive as que desfilam de madrugada. Mudo de canal para ver a cobertura dos bailes e outras formas de carnaval (Bahia e Pernambuco). De uns anos para cá tem feito bastante sucesso os seriados. Conheço amigos que fazem verdadeiras maratonas no carnaval, assistindo algo em torno de 30 episódios ou até mais. Também pudera: tem para todos os gostos.

Mas se tem uma coisa que não mudou nada é deixar algumas pendências para depois do carnaval. O depois do carnaval pode ser espichado bastante, depende do valor do fiado e dos interesses em jogo. Para muitos, as promessas de fim de ano só valem depois do carnaval. Deixa-se para depois o que se pode fazer hoje. Paciência, funciona desse jeito. Por via das dúvidas, feliz ano novo!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.