Quaiscalingudum

Semana passada fui ao show dos Demônios da Garoa. Completaram 80 anos de existência. É o conjunto mais antigo do Brasil em atividade ininterrupta. São mais de 11 mil shows. Certamente tem prática em agradar ao público. Nele estão o filho e o neto do fundador do grupo, Antônio Rosa. Desde então, fiquei pensando nos grupos, bandas e conjuntos mais longevos do Brasil.

Em 1964 surgiram dois grupos muito interessantes. O Zimbo Trio embalou um dos programas mais icônicos da TV brasileira: “O fino da bossa” (1965 a 1967), apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. No mesmo ano, surge o Quarteto em Cy, das irmãs Cynara, Cyva (ambas ainda vivas), Cybele e Cylene. As “baianinhas” foram apadrinhadas por Vinícius de Moraes. São consideradas o melhor grupo de vozes femininas da MPB. No ano seguinte foi a vez de aparecer o MPB4. De Niterói, começou com Miltinho, Aquiles (ainda vivos), Magro e Ruy. Deles, destaco a participação do maior dos festivais da Record, o de 1967. Ficaram em terceiro lugar com a canção “Roda Viva”, talvez a melhor deles. Pernambuco traz dois conjuntos regionais bem longevos. Em 1970 surge o Quinteto Violado, que se dedica à música regional e ao folclore. Em 1971, a Banda de Pífanos de Caruaru gravou seu primeiro disco. Na verdade, ela existe desde 1924 e curiosamente surgiu em Alagoas.

A década de 1970 trouxe ainda dois grupos vocais: o Boca Livre surgiu no Rio de Janeiro em 1978. Gravou MPB e Bossa Nova. Usam notas dissonantes e alternância de vozes para fazer o solo. O 14 Bis é de Minas e surgiu em 1979. Gravaram muitas músicas de Milton Nascimento.

A década de 1980 começou muito bem com o Roupa Nova. Deles, cito apenas que são os recordistas de canções em novelas, mais de 50 sucessos. No ano seguinte, surgiria no Rio de Janeiro o Barão Vermelho com Cazuza e Frejat nos vocais. Também em 1981 surgiu a banda paulista Ultraje a Rigor, que conquistou o primeiro disco de ouro e de platina para o rock nacional. Em 1982 surgiram os Titãs, grupo paulistano que está fazendo sua última turnê. Eles têm uma coleção de discos antológicos. No mesmo ano surgiram Os Paralamas do Sucesso que misturaram bastante o rock com reggae. Estas três bandas, Barão Vermelho, Titãs e Os Paralamas do Sucesso, juntos com o extinto Legião Urbana (1982 – 1996), seriam a base da explosão do rock nacional na década de 1980. A Blitz, que surgiu em 1981, mas ficou inativa entre 1986 a 1994, contribuiu com seu rock irreverente. Dos que persistem, o caçula da turma é o Biquini Cavadão (1985), banda que toca vários estilos de rock.

Paro aqui. Deixo para meus leitores a tarefa de lembrar-me de eventuais lacunas entre os conjuntos antigos que ainda existem. Mas, o que todos tem em comum? Se não fossem bons, não estariam na praça até hoje. Vida longa à boa música!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.