Psicanálise e Saúde Mental

A psicanálise é baseada na ideia de que muitos dos nossos pensamentos, comportamentos e emoções são influenciados por impulsos inconscientes e experiências que vivemos nos primeiros anos de vida.

No texto “Mal Estar na Civilização” 1929, Freud fala das fontes do sofrimento humano que diante do mundo externo podem se voltar contra nós como forças destrutivas que dificultam os relacionamentos, falando de mal-estar como uma insatisfação que nos acompanha, e analisa as tensões entre as pulsões individuais e as exigências impostas pela vida em sociedade argumentando que viver neste mundo exige renúncia das pulsões instintivas e um constante equilíbrio entre frustração e prazer, discutindo a natureza da cultura e investigando questões como a relação entre a civilização e a agressividade humana, assim como a influência do complexo de édipo na organização social e a constante impossibilidade de uma vida sem sofrimento.

Pensar a saúde mental a partir da psicanálise significa questionar o indivíduo para além do que seria “normal” ou “patológico”, e o que se busca no processo de análise é um sentido e um significado para aquilo que transborda, seja na forma de sintoma, repetição, angústia, dor, enfim, em todas as formas de vivência e sofrimento humano.

Em algum nível, todos nós já tivemos dificuldades de ordem individual ou social, por isto, cada vez mais a recorrência de sintomas tem nos feito pensar no quanto a falta de investimento em nossa saúde mental é danosa e capaz de comprometer nossas relações: com nós mesmos e com os outros.

Ao mesmo tempo, quando prestamos atenção no que nos adoece, e fazemos escolhas que tem mais eco com as verdades que acreditamos, estimulamos partes de nós mesmos nos levando a ter mais sincronicidade com o que queremos ser.

Atualmente, vivemos numa sociedade marcada pelos excessos, cada vez mais sem contato com as coisas simples e corriqueiras que dificultam uma dinâmica interna que contribua para nos escutarmos. Excesso de telas, vida sem natureza, falta de esporte, mundo sem arte, sem livros, sem momentos com amigos, familiares ou com quem temos interesses em comum que acabam por facilitar o adoecimento.

Sem saúde mental não conseguimos trabalhar, passear, criar filhos, estudar, se organizar, fazer esporte, rezar, viajar, assistir um filme, ir ao teatro, ler livros, ou quando conseguimos, será sempre com dificuldade e peso por não administrarmos as demandas internas perdendo a noção dos limites individuais, ou seja, o quanto aguentamos e podemos aguentar.

Para investir em saúde mental precisamos olhar para nós mesmos entendendo que prevenir é melhor do que remediar, e mais do que isto, sendo capaz de gerar uma vida justa e coerente para que não adoecermos.

Ter saúde mental significa equilibrar a vida psíquica com as demandas sociais de maneira que possamos saber de nós mesmos e daquilo que queremos e aguentamos para nossa vida, buscando mais qualidade e menos quantidade, porque afinal, somos um emaranhado de coisas que conversam entre si: corpo, mente, espírito, amizades, escolhas, desejos, expectativas, realidade, amor, vicissitudes.

Música “As Vitrines” com Chico Buarque.

Foto do acervo @claudiazogheib

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br