Populismo infeliz

Lamentavelmente o populismo faz parte da prática política brasileira há tempos. No passado recente foi dito que se poderia “fazer o diabo” quando é a hora da eleição. Mudam os atores, mas a atitude é a mesma. A vítima do momento é mais uma vez a Petrobrás e a vontade política incontrolável de manipular a empresa para servir aos interesses do jogo eleitoral. Uma história que já conhecemos e sabemos como termina: o povo pagando a conta depois dos votos serem contados.  

Tanto no governo Fernando Henrique, quanto na presidência de Michel Temer, muito foi feito para transformar o setor e a Petrobrás, colocando-a em patamares modernos de mercado, diante de um setor mais competitivo e também na aplicação de um modelo internacional de governança adequado ao mercado externo. Porém, apesar do esforço, as forças do atraso sempre conseguem interferir na empresa, seja para saquear seus cofres ou para servir aos seus próprios interesses eleitorais.   

Na crise mais recente, políticos já estão sugerindo rever as regras da Lei das Estatais, um instrumento moderno que buscou profissionalizar a gestão das empresas sob comando do governo e evitar interferências indevidas em seu modelo de administração para privilegiar qualquer grupo. A acusação é de que “as estatais são seres autônomos e com vida própria, muitas vezes dissociados do governo do momento”. Ora, este foi exatamente o objetivo da lei, ou seja, colocar as empresas a serviço dos brasileiros, afastando-as do alcance dos políticos. Tudo indica, que esta evolução acaba de entrar na mira do governo, que pode operar sua destruição.   

No que diz respeito a Petrobrás, também existe um projeto de lei para mudar a política de preços, que poderá desvincular a gasolina do mercado internacional. Mudanças que visaram modernizar a empresa e que agora serão desfeitas, atingindo sua reputação externa, punindo acionistas e investidores que certamente evitarão estar no Brasil no futuro, uma vez que a segurança jurídica e a estabilidade das regras são pontos fundamentais para a orientação de investimento.   

Por mais que avancemos a passos largos com a liderança correta, tanto no processo de desestatização na década de 1990, quanto nas reformas estruturantes no período pós-impeachment, percebemos que as conquistas do povo brasileiro podem ser facilmente desfeitas diante de golpes baixos de populismo. O momento é de cautela, uma vez que as mudanças propostas podem gerar efeito eleitoral imediato, porém, devem produzir danos incalculáveis na reputação de nosso país no longo prazo.   

Não tenho dúvidas de que o melhor caminho para a Petrobrás é a privatização. A empresa já cumpriu com sua função estratégica governamental em nossa história e agora chegou o momento de, nas mãos de uma gestão privada, trabalhar e competir em grau de igualdade com outros players do mercado internacional. Assim como a Vale e a Embraer, ela certamente gerará mais recursos aos cofres públicos por meio do pagamento de impostos do que por meio da gestão de políticos.   

A renovação de um populismo malandro e infeliz é a mais perigosa armadilha contra nosso povo.  
 

Márcio Coimbra 

Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica, cientista Político e mestre em Ação Política 

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Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.