Phono 73

Phono 73 foi um festival de música realizado há 50 anos em São Paulo. Promovido pela gravadora Phonogram, atual Universal, contou com praticamente todo o seu elenco de músicos. O festival foi um evento de divulgação da gravadora. Não se usava a palavra marketing à época. A intenção era promover as músicas de seus contratados. Entretanto, acabou se tornando um evento de um forte viés político. O evento foi documentado em três LPs chamados “Phono 73 – O canto de um povo”. Ao contrário dos grandes festivais de música realizados no país, este não era uma competição. O objetivo era que cada músico apresentasse dois sucessos antigos e outro inédito, além de formar dupla com um colega de gravadora de gênero e repertório completamente diferentes, estimulando novas parcerias.

No começo da década de 1970 a Phonogram vinha de um sucesso de vendas, o álbum “Caetano e Chico juntos e ao vivo”. Este fato inspirou-a a realizar um evento que enfatizasse musicalmente a diversidade de seu catálogo. Os ingressos foram comercializados a preços populares em mais de 50 lojas de discos de São Paulo. A gravadora esperava recuperar o investimento na organização com a produção de LPs e de um documentário baseados no festival. Dos grandes, apenas Tim Maia e Tom Jobim ficaram de fora do evento. Realizado no auge do regime militar, o evento ganhou um inevitável contorno político, acentuado pela participação de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, recém-retornados do exílio.

O evento teve apresentações únicas e inusitadas. Teve Rita Lee com Lúcia Turnbull formando as “Cilibrinas do Éden”, que depois se transformou no conjunto Tuti Frutti. Teve ainda Odair José e Caetano Veloso cantando “Eu vou tirar você deste lugar”. Foram vaiados, assim como Elis Regina que tinha cantado em um evento do exército. A ação mais incisiva de censura foi quando Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram o som de seus microfones cortados para que não cantassem a música "Cálice".

Por conta do espaço, citarei apenas alguns dos clássicos inclusos nos três discos: “Regra três” com Vinicius e Toquinho, “Orgulho de um sambista” com Jair Rodrigues, “Sentado à beira do caminho” com Wanderleia e Erasmo Carlos, “Mas que nada” com Jorge Ben, “Diz que fui por aí” com Nara Leão. Alguns dos artistas que participaram foram Ronnie Von, Sérgio Sampaio, Raul Seixas, Simonal, Gal Costa, Luís Melodia, Ivan Lins e MPB4. O festival foi bastante criticado por sua desorganização e pela qualidade ruim do som no Anhembi. No entanto, foi um dos maiores eventos da história da MPB. O curioso, é que festivais, ainda que repaginados, persistem até hoje. Não sei o que é pior: os cantores envelhecerem ou nós acharmos que ainda vai aparecer alguma coisa nova parecida com o que vivemos na juventude.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.