Pesadelo turístico

Um certo turista, imaginário, fez viagem por determinados países, escolhidos com critério. Foi, de início, à Coréia do Norte. Foi recebido ali por Kim Jong-un, o supremo mandatário. Kim herdou de seu pai — sujeito de sorte — um país inteiro e toda sua população.  Esse supremo mandatário, agora no papel de cicerone, levou nosso amigo para conhecer seus dezessete palácios de luxo, transportando-o em três de seus cem carros — é isso mesmo, uma centena! — de primeiríssima linha! E, no jato de sua propriedade, foram ao litoral norte, de onde partiram para passeio no iate, de trinta metros, também de propriedade do dono do poder. 

Nosso turista, atento, tomou conhecimento de que, na Coreia do Norte, celular não pode ser usado pelo povo, proibição imposta pelo supremo mandatário. De quebra, a internet também não pode ser usada por ninguém. Aliás, refletiu nosso amigo, é o único país no mundo que tem essa proibição! E foi assim que ele ficou sabendo que o regime desse país é o mais fechado do mundo. Olhando para os transeuntes, percebeu que todos têm semblante triste.  

A seguir, uma esticada até à América Central, Cuba. Na verdade, chegou ali, levado por teimosia.  Hubert de Matos, cidadão daquela ilha, havia lhe contado tudo que ocorreu com ele, experiência pessoal. Dissera Hubert que, lado a lado com Fidel, fizera a revolução cubana, até então movimento pela democracia. E, no momento culminante da revolução, perguntou a Fidel: Ué, estamos guinando o nosso movimento para a esquerda? Castro disse que sim. Hubert acrescentou: «não conte mais comigo. Estou fora!» Ilusão de Hubert!  Pelo seu comportamento mencionado, Fidel mandou prendê-lo: por 20 anos! Ficou preso numa cela em que não conseguia ficar em pé. Era a gratidão ditatorial! Hubert, libertado, passou a contar sua história para o mundo, como advertência.  

Em Havana — ficou sabendo nosso turista — uma mãe pediu a Ché Guevara clemência pelo filho de 15 anos. «Ele é uma criança!» Falaram que vai ser executado sexta-feira! Como vou sofrer daqui até lá!» Ché mandou buscar o menino, afirmando que “a senhora não vai sofrer até lá!” E, ali, diante da mãe, sacando a arma que tinha no coldre, matou o menino... E dizer que Fernando Moraes, em seu livro A Ilha tece loas a Cuba! Nessa publicação, Cuba é o paraíso terrestre... Com a palavra, Carlo Colodi, autor que deu à literatura o menino de madeira, aquele que, quando mentia... Ah! Todo mundo conhece a sequência! 

Nosso viajante não se dispôs a ir à Rússia. Entretanto, leu, na viagem a caminho da Venezuela, o livro Vinte Cartas a Um Amigo, de Svetlana Alliuyeva, filha de Josef Stalin. Ela fugiu de seu país e se naturalizou americana. No livro, conta que seu pai — que tinha casa de campo, casa de veraneio, carro de luxo particular, motorista, guarda-costas e muitas outras coisas mais — matou mais de cinco milhões de pessoas, aí incluídos entes queridos da família, bem como milhões de ucranianos! Svetlana vivenciou isso tudo! 

Nosso turista, chegando à Venezuela constatou, apenas observando a população, o inclemente nível de pobreza! A fome e a sede ali respondem presente nas fisionomias daquela expressiva fatia da humanidade.  Mais tarde, encontrou nos jornais, gigantescos informes percentuais a respeito. Ficou sabendo que mais de 5.000.000 de seres humanos, cidadãos venezuelanos, abandonaram o país, na esperança de continuar vivos, sem fome, sem sede.  

Nosso amigo, chegando ao Brasil, sentindo frio na barriga, ficou sabendo que há quem queira, com empenho, algo parecido para o nosso país! O regime em foco está bem definido por Millor:  é espécie de alfaiate; quando o terno não serve, eles reformam o cliente. Até o Leonardo Di Caprio, procedente dos escombros do Titanic, dá palpite para que isso aconteça... É, uns choram porque lhes batem, outros choram porque não apanham. Que fazer? Será que alguém gostaria que nossa gente passasse por aquilo que passam os habitantes desses países, visitados pelo nosso turista? 

Dizem que povo não quer tumultos em sua vida. Não quer confrontos com a verdade. É paciente até com a idiotice. É indolente por natureza. Aceita qualquer explicação, agradecido, para não ter de se perturbar ou ser obrigado a pensar.  

Não penso assim. Espero que, nas próximas eleições, os eleitores —— e as urnas! ——decidam pela sorte do Brasil! 

 

*Todos os dados constantes do texto foram colhidos na literatura disponível, sem exceção.

Autor

Marcílio Dias
É advogado e articulista de O Regional.