Perspectivas

“A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado.” - André Malraux - Escritor francês (1901 – 1976)

 

Todo aplauso a uma manifestação artística representa um alimento essencial ao artista. Há quem acredite que isso basta. Contudo, o artista – como qualquer ser humano – não se sustenta de um só alimento e precisa de muitos outros elementos para sobreviver.

André Malraux nos lembra que a cultura afronta a escravidão, isso é primordial: a liberdade como alimento para a criação. O artista precisa ser livre para criar e nos mais recentes, houve uma perseguição ideológica e uma pressão limitadora que adoeceu a mente artística do brasileiro.

No entanto, a cultura precisa mais: Maksim Gorki, escritor, romancista, dramaturgo, contista russo (1868 – 1936), afirmou com propriedade que a “a nova cultura começa quando o trabalhador e o trabalho são tratados com respeito”. Elementar. O trabalhador da cultura não é visto e respeitado por muitos, que só enxergam na arte e na cultura uma manifestação de lazer e entretenimento sem maiores objetivos; e por isso mesmo condenam os efeitos de ações artísticas que mobilizam e fazem pensar.

“A grande lei da cultura é esta: deixar que cada um se torne tudo aquilo para que foi criado para ser”, esclarece Thomas Carlyle, escritor, ensaísta, historiador e professor escocês (1795 – 1881), ou seja, fazer florescer todo o potencial humano.

A cultura brasileira não pode nem merece ser escravizada ou limitada à preconceitos e ao vazio de uma parte da sociedade que não consegue enxergar, sentir ou se permitir desfrutar profundamente de algo tão grandioso. O mundo inteiro respeita e admira nossa arte, nossos artistas, nossa cultura. Um grande patrimônio do Brasil e que possui milhares de trabalhadores que precisam de liberdade, respeito e incentivo para que suas vozes sejam ouvidas, para que suas cores se manifestem e seus corpos e almas brilhem.

Novo ano, novo governo, renascimento do Ministério de Cultura, renovação de leis de incentivo, ou seja, a esperança está no ar. O que virá, não sabemos. Torcemos. Nós, artistas, apenas solicitamos que o investimento na área cultural seja ampla, democrática e justa.

A nível estadual, São Paulo deu um imenso passo atrás pois herdou a filosofia retrógrada do antigo governo federal. Também teremos que aguardar os primeiros acenos da Secretaria Estadual de Cultura para avaliarmos o futuro já que nosso estado sempre incentivou e investiu fortemente no setor.

Nunca demais lembrar o artigo 215 da Constituição Federal: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.

Quando vivermos essa realidade em relação à cultura brasileira e seus agentes, todo aplauso será ainda mais significativo pois encontrará o artista em sua plenitude criativa, emocional, humana e social, valorizado e respeitado.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.