Perguntas sem resposta
É preciso que nos acostumemos à esta verdade: há perguntas sem resposta. Por mais que os pontos de interrogação borbulhem dos quatro cantos do planeta e de cada ângulo eletrificado da alma enredada pelos neurônios, é provável que tenhamos resposta de uma em cada dez questões. Nossa geração, dita pós-moderna, até que se acostumou às dubiedades etéreas, às respostas mal disfarçadas em incertezas com auras semi-sólidas que, à força de muita retórica, conseguem amenizar nossa sede desértica por significado. Sim: nossa civilização ultimamente pratica um auto-engano que se contenta com a forma das respostas sem o conteúdo das respostas.
Mas precisamos ir além do diagnóstico. Temos que ir mais além e, no limite da guerra contra si, expurgar esta burrice subjetivista e non sense de que (perdoe-me, Fernando Pessoa!) “Tudo é incerto e derradeiro / Tudo é disperso, nada é inteiro.” Há certezas primaciais, há unidades inteiras. Ao lixo com essas baboseiras blasés anti-racionais, inimigas da potência da cognição e da liberdade humanas. Existe solidez que não se desmancha no ar. Há pedras que podem voar, segundo a metáfora; mas as montanhas permanecem apegadas à terra da qual vieram. Então, superada esta etapa da verdade sendo relativizada por qualquer cretino na esquina, passemos (voltemos, melhor dizendo) ao que realmente dói: as perguntas sem resposta.
Pois cá estamos, diante do grande abismo. Muitas, muitas e muitas das nossas questões ficarão sem resposta. Não há “conhece-te a ti mesmo” que dê conta daquilo que em nós está selado como mistério. Mil vezes não. É melhor aceitar que certas escuridões devem ficar ocultas até que a luz do fim do túnel, aquela etapa anterior à declaração formal do nosso futuro óbito, dê início à caminhada do espírito à Luz Inacessível (sim: Deus). A terapia não vai resolver estas lacunas. A religião também não. Nada, nada, nada. Você é capaz de conviver com o vácuo deveras inabitado que torna ausente tanto o “sim” quanto o “não”? Já superamos o “talvez” no segundo parágrafo... Acate o silêncio que de fato faz silêncio e, depois de absorver a realidade, até mesmo esqueça que existem perguntas sem resposta.
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