Perguntas incômodas aos maus políticos

Qual foi o último livro literário que você leu? Descreva, em três sentenças médias, um resumo deste. Também, diga algo a respeito do autor. Recomendo-lhe “A queda dum anjo”, de Camilo Castelo Branco.

Qual foi a última obra de arte, uma pintura, digamos, que contemplou? Conte-nos sobre a escola artística associada e seus principais expoentes. Já botou os olhos em “A Morte de César”, de Vincenzo Camuccini?

Qual foi a última vez que foi à igreja sem manifestar qualquer vil interesse eleitoreiro? Qual o sentimento que bateria em sua alma se ouvisse o “Sermão do Bom Ladrão” pregado pelo próprio Pe. Antônio Vieira?

Quais os critérios que utiliza para contratar seus primeiro e segundo escalões (já que o terceiro é obra de terceiros)? São capazes de lhe chamarem às falas, aconselhando a realidade, ou são inaptos e ineptos puxa-sacos?

Qual o tamanho da lista de indivíduos que você, de uma forma ou outra, beneficiou, e que, chegando a temporada eleitoral, é arrancada da gaveta para lhe guiar numa série de visitas a fim de cobrar os favores?

Qual o tamanho do seu ego quando inflado pelos cerimonialistas e locutores durante os eventos públicos? Sente lancinantes comichões na espinha toda vez que seu nome é citado e recitado? Chega ao orgasmo?

Qual o tamanho da sua disposição em se mudar de cidade, estado ou país quando, na próxima eleição, você for liturgicamente despejado do gabinete público com um acrobático pé na bunda nada quiroprático?

Quais os critérios dos quais se vale para selecionar este ou aquele amiguinho para usufruir as benesses das licitações enviesadas? Antes de enviar a carta-convite, ele é convidado a financiar previamente a carta?

Você, pseudo Sancho Pança do século XXI, deveria ler os conselhos políticos de Dom Quixote. Você, egocêntrico parlapatão que dá voltinhas girantes na sua cadeira de couro enquanto os parlamentares ficam humilhados de pé, deveria tomar cuidado com os “idos de outubro”. Você, ateu prático, discípulo de Frank Underwood, deveria peregrinar de joelhos até a lua e lá praticar auto-empalamento na lança de São Jorge. Você, adestrador de incapazes e incompetentes, de sicofantas bajuladores, deveria se preparar para o motim que já está preparado para quando seu titaniczinho começar a afundar. Você, achacador dos pobres e necessitados, deveria se acostumar com a idéia de que as penitenciárias brasileiras disponibilizam tratamento médico apenas no SUS. Você, reizinho mandão (“sois rei, sois rei, sois rei!”), deveria saber que o imperador Marco Aurélio era assessorado por um servo que, diante dos aplausos da multidão amansada por pão e circo, lhe dizia ao pé do ouvido: “Você é apenas um homem!”. Você, napoleãozinho de hospício, deveria escolher um novo CEP no qual todos os habitantes, ignorantes da sua “capivara” roedora do erário, no máximo lhe chamassem por um apelido qualquer, sem pronomes de tratamento. Você, corrupto, aprenderia muito de semântica e de Direito Penal se pesquisasse a etimologia da palavra larápio.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor