Perdeu uma. Por enquanto!

A Universidade de Princeton (Estados Unidos) realizou o maior estudo de longo prazo sobre inteligência artificial e previsão sobre o futuro das pessoas. Acompanhou 4242 famílias americanas que tiveram filhos por volta do ano 2000. Colheu informações sobre as crianças e seu entorno em seis momentos, do nascimento aos 15 anos. Participaram do estudo 160 equipes de especialistas de diferentes áreas. Eles usaram diferentes metodologias de inteligência artificial para prever o futuro. A ideia era encontrar padrões de funcionamento e adivinhar o que aconteceria com algumas características dos indivíduos estudados tais como notas na escola, situação profissional dos pais e queda ou aumento da renda familiar. Ao todo foram estudadas 12 mil variáveis.

O resultado do estudo: furou! O programa acertou apenas de cinco a vinte em 100 previsões feitas. Praticamente nulas num período maior do que seis anos. As pessoas são um “sistema” instável, sujeito a muitas variáveis externas e eventos imprevistos.

O canadense Philip Tetlock, fez vários estudos envolvendo previsões de especialistas e leigos. No mais célebre, usou como referência previsões econômicas de 254 especialistas e o mesmo tanto de leigos. O índice de acerto de ambos os grupos foi em torno de 50%, a mesma chance de acertar no “cara ou coroa”. No estudo, os “superespecialistas”, em particular os midiáticos, tiveram um índice de erros maior por serem muito mais apegados à sua opinião do que um leigo comum.

Talvez as máquinas possam acertar previsões de curto e médio prazo em sistemas dinâmicos e pontuais, mas estáveis. Um exemplo disso são os programas de xadrez para computador. Ou assuntos específicos como já acontecem nos Estados Unidos onde existem programas que encontram a jurisprudência mais adequada para processos judiciais e acertam mais diagnósticos em exames médicos do que os especialistas.

Nestas horas, vem à mente, a célebre frase do general romano Pompeu, dita no século I a.C., repetida pelo poeta italiano Francesco Petrarca no século XIV, pelo poeta português Fernando Pessoa e cantada por Caetano Veloso: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Vejo muita gente se confundir quando usa a palavra preciso como verbo, sinônimo de necessidade. Na verdade, a frase usa a palavra “preciso” como adjetivo, no sentido de exatidão, precisão. Significa que, desde a antiguidade, navegar é uma viagem exata, conhecendo-se as constelações e usando bússolas e astrolábios. Por outro lado, viver não tem nada de exato. É uma viagem feita de opções, medos, forças, inseguranças, persistências e transições.

Os programas de inteligência artificial erraram as previsões sobre o futuro das pessoas. Por enquanto. Eles chegam lá!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.