Pequenas corrupções

O ser humano, por sua essência, um ser social, acaba reproduzindo comportamentos que muitas vezes não são moralmente aceitos, tampouco éticos, porém, para manter seu pseudo status, prefere “vender sua alma ao demônio”, do que agir contra tais comportamentos. Podemos ler isso mais profundamente em os 'Os estabelecidos e os outsiders: Sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade', de Norbert Elias. Mas não cabe aqui um resumo do estudo, porém vale o convite. 

Estava eu lendo alguns editoriais do jornal, me deparei com uma expressão muito interessante e carregada de significados, que por mais que tentemos aprofundar, nunca se encerra em si própria, tal expressão é “pequenas corrupções”, a partir dela comecei a refletir sobre os critérios que nos fazem ser éticos, mesmo numa sociedade que ainda persiste em atitudes imorais, antiéticas ou, como o senso comum diz, preconizam o tal “jeitinho brasileiro”. 

Não é de hoje que a população clama por uma política que preze pelos aspectos éticos e morais, que os eleitos pelo povo atendam às demandas das camadas mais necessitadas, mas bem, na perspectiva de quem ficou do lado de cá do poder, vendo as promessas se esvaírem, posturas mudarem e cada vez mais o político revestindo-se da presunção do poder atribuído, criticamos, apontamos e nos damos o luxo de apontar as características mais nefastas possível, principalmente se algo sugerir uma conduta imoral, ai somos tomados por uma fúria, que nos permite falar qualquer coisa, desde que isso seja uma válvula de escape para nossa frustração. É obvio que devemos cobrar, devemos ser incisivos nisso, pelo menos para que uma parte das promessas e propostas sejam cumpridas e que atendam a população de fato. 

Infelizmente a política traz alguns artifícios que acabam por diminuir o alcance da informação ao povo ou, quando chega, esta informação vem tratada, diminuindo o impacto, haja vista os 100 anos de sigilo... Enfim, nos parece que ao adentrarmos à vida política, a mesma traz diversas máscaras, que faz com que se apresentem ao povo sem a menor preocupação, com sorrisos e acenos, como se tudo fosse maravilhoso, um tanto quanto estranho, não? 

Do outro lado, estamos nós, que assertivamente somos os culpados de colocar e perpetuar políticos no poder, mas para que possamos compreender melhor a reflexão aqui, devemos ir um pouco mais fundo. Quantas vezes você já passou o sinal vermelho sem que ninguém visse, mesmo sabendo que é uma infração? Quantas vezes você já jogou papel no chão, mesmo tendo um lixo a poucos metros de você? Quantas vezes encontrou algo e se fez de desentendido e se apossou do mesmo? Quantas vezes furou fila? Enfim, quantas vezes cometemos tais corrupções?  

Ser ético é você agir corretamente mesmo quando ninguém vê e em tempos de redes sociais, agir sem que tenha o foco de algum celular para tentar justificar sua eticidade. É incomodar-se com as injustiças e não se calar, mesmo que isso acabe refletindo negativamente sobre sua imagem. O ponto em questão aqui é... Não adianta ficar incomodado com a falta de ética em quaisquer setores, seja na vida pública ou privada, se mantiver as pequenas corrupções cotidianas... 

Mesmo porque estar inconformado com o cenário político do Brasil tem muito mais de você do que imagina e mudar tal perspectiva remonta reconstruir atitudes e valores morais que sejam condizentes para com uma possível - não tão utópica assim – sociedade justa.

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva