PENEIRA FINA – 25.01.23
Eleição passou, mas polarização permanece
Pode não parecer, mas já se passaram cerca de três meses desde o resultado da última eleição. Todos os ocupantes de cargos executivos já tomaram posse e muitos subiram a rampa pregando paz e união. Entre os discursos proferidos pelos políticos e as ações da vida real, porém, não é raro que nos deparemos com abismos instransponíveis. Os governantes podem até falar em fraternidade, mas os grupos organizados ainda estão a postos para a batalha. A polarização, ao que tudo indica, é um componente que veio para ficar na política brasileira e deve se fazer sentir nas disputas municipais, daqui a dois anos.
Acirramento
Posições e discursos mais radicais, à esquerda ou à direita, não são novidade no Brasil pós-redemocratização. Quem é um pouco mais velho e acompanhou a eleição presidencial de 1989, cujo segundo turno foi disputado entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, com a vitória do primeiro, há de se lembrar de que os dois candidatos apostaram em radicalizar seus discursos, estratégia que se mostrou correta naquele contexto.
Rumo ao centro
Nos anos seguintes, porém, o eleitorado brasileiro fez uma migração para o centro político, passando a endossar candidatos e projetos mais moderados. Foi assim que o PSDB chegou ao poder, com FHC escorando-se numa ampla aliança que ia da centro-esquerda à centro-direita. O próprio PT, para chegar ao poder, teve de fazer alianças e acenar para o eleitorado conservador. Com as crises política e econômica da última década e a chegada das redes sociais, tudo isso mudou. Radicalizar voltou a ser um bom negócio para candidatos.
Polarizar
Por muito tempo, imperou uma receita mágica nos estudos e no próprio marketing político. Segundo essa fórmula, para vencer uma disputa para cargo executivo um candidato deveria ocupar o centro, de modo a agradar a uma quantidade máxima de eleitores em ambos os espectros políticos. Veio então Jair Bolsonaro, que se elegeu presidente em 2018 com um discurso claramente de direita e que rejeitava qualquer diálogo ou aceno para os adversários. Se, no poder, ele fez concessões ao centro, isso é outra história. Na hora de pedir voto, ele escolheu um dos polos em disputa e deixou claro que não queria conversa com o outro lado. E isso funcionou.
Urnas comprovam
Em 2022, polarizar novamente se mostrou um bom negócio. E a prova disso é que os partidos que mais elegeram deputados foram justamente PL, de Bolsonaro, e PT, de Lula. A estratégia de ambos consistiu basicamente em atacar o polo oposto.
Sem afagos
A troca de acusações entre os lados opostos na política permanece firme, mesmo depois de concluído o processo eleitoral. Da parte das lideranças bolsonaristas, as críticas ao novo governo foram fortes desde que o resultado da eleição foi divulgado e continuaram com tudo, nas semanas seguintes.
Direita x esquerda
Tudo bem que, recentemente, diante do refluxo das manifestações que contestavam o resultado do pleito (na esteira do quebra-quebra ocorrido em Brasília), líderes da direita andam evitando pronunciar-se sobre política. Ainda assim, a frequência e o tom das críticas ao governo Lula estão se elevando. Em contrapartida, os petistas seguem implacáveis na tática de apontar problemas que teriam sido deixados pelo antecessor no Palácio do Planalto. Não significa que um dos lados esteja certo nessa disputa. O que constatamos, aqui, é que esse discurso deu resultado na eleição e seguirá sendo aplicado.
Em Catanduva
Tudo isso que dissemos acima pode ser observado, por exemplo, nas postagens de lideranças bolsonaristas ou petistas em Catanduva. Nas redes de Beth Sahão (PT), por exemplo, os conteúdos com fortes críticas a Bolsonaro têm predominado, nos últimos dias. Por outro lado, políticos bolsonaristas, como Ricardo Rebelato ou Beto Cacciari, volta e meia andam publicando posts com críticas ao novo governo federal.
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