PENEIRA FINA – 21.04.23
Uma quinta-feira diferente nas escolas de Catanduva
Ontem, como era de se esperar, as escolas de Catanduva permaneceram às moscas. Ainda que estivessem funcionando, com aula e tudo, o que se viu, de um modo geral, foi a presença ínfima de alunos. O pânico, diante da ameaça de um possível massacre (fato que não se concretizou, pois era boato), fez com que muitos pais optassem por não enviar os filhos à aula. Catanduvenses acostumados com os engarrafamentos nas imediações das escolas, em horários de entrada e saída de estudantes, devem ter estranhado a tranquilidade verificada na véspera do feriado de Tiradentes. O medo conseguiu pautar as decisões das famílias. Vejamos até quando isso vai permanecer.
A lógica
O temor que levou milhares de pais e mães em Catanduva a não mandarem seus filhos às aulas em dezenas de escolas partiu da premissa de que poderia haver ataques na data de ontem, dia que marca o “aniversário” do chamado “Massacre de Columbine”, ocorrido na cidade norte-americana de mesmo nome, em 1999. Pelas redes sociais e apps de troca de mensagem, circulavam rumores de que algo assim iria ocorrer em cada uma das escolas da cidade. Ora, apenas em Catanduva temos mais de 50 escolas. Para que a situação temida por pais e mães se concretizasse, precisaríamos ter mais de 50 psicopatas homicidas (pelo menos um por unidade de ensino), apenas em Catanduva, dispostos a agir numa data em que o policiamento estava reforçado nas imediações da escola. O leitor, analisando esse cenário, considera que ele poderia ser considerado crível?
Pensar com a cabeça
A sabedoria popular ensina que o desespero não é o melhor conselheiro em nenhuma situação. A sociedade não pode viver pautada pelo pânico. Saber que o risco existe e tomar as medidas necessárias para se proteger é essencial. Isso é diferente de deixar-se dominar pelo discurso do caos. Para chegarmos à conclusão de que é possível e provável um cenário em que, numa mesma data específica, cada escola de Catanduva poderia se tornar palco de um massacre, estamos admitindo que vivemos em uma sociedade extremamente adoecida, com dezenas ou centenas de homicidas em potencial. Se for assim, estamos a um passo do precipício. Se não for, pode ser que o problema grave seja uma situação localizada, que demanda ações conjuntas para ser solucionada.
E no futuro?
Não podemos afirmar nada com certeza absoluta, mas lembremos que hoje é feriado prolongado de Tiradentes. Caso as ameaças não concretizadas de eventuais massacres não passassem de um ardil adotado por alguém querendo cabular aula, o autor do suposto estratagema alcançou seu objetivo de folgar em dia letivo. Se amanhã, por exemplo, resolverem espalhar novo boato relacionado a segunda-feira ou à véspera do próximo feriado prolongado do Dia do Trabalho, as famílias também não enviarão seus filhos à escola? É a dúvida que fica...
Elemento surpresa
Não é preciso ser especialista em segurança para notar que, via de regra, os ataques que obtiveram êxito tiveram como característica comum o “elemento surpresa”. Ninguém fazia a menor ideia de que crimes tão vis poderiam ocorrer. Hoje, a sociedade inteira está ciente de que as escolas e as crianças tornaram-se alvo de criminosos sádicos. É necessário, portanto, manter e reforçar as medidas de prevenção e de enfrentamento a essa violência. Algumas pessoas acreditam que o problema é passageiro. Mas a realidade demonstra que os covardes esperam apenas a sociedade e as autoridades baixarem a guarda, para então agirem. A vigilância deverá ser permanente.
“Alerta Vermelho”
Foram aprovados, nesta semana, projetos de lei de vereadores que visam reforçar a segurança nas escolas de Catanduva. O “Alerta Vermelho”, de Alan Automóveis (PP), prevê a instalação de um dispositivo similar a um botão de pânico para acionar de maneira mais rápida os órgãos de segurança e de saúde, em casos de emergência.
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