PENEIRA FINA – 02.02.23
Reeleição de Pacheco no Senado fortalece Kassab e deve ter impactos na região
Em uma terça-feira com poucas notícias de peso no cenário local, o que acabou mobilizando as redes sociais em matéria de política foi a eleição para a escolha da mesa diretora do Senado. Os analistas – sempre eles! - traçavam cenários sombrios e indefinidos para essa disputa, que colocou em lados opostos o atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD), e Rogério Marinho (PL), apoiado pelo bolsonarismo. Houve até quem previsse que uma eventual vitória deste último poderia fazer sangrar o governo de Lula (o PT e sua base aliada apoiaram Pacheco) e dar força aos bolsonaristas. No fim das contas, porém, o atual presidente conseguiu permanecer no cargo, com uma maioria relativamente tranquila. Foram 49 votos a 32 (o senado tem 81 cadeiras, três por estado). Se há um vencedor nessa história é Gilberto Kassab, que conseguiu, até agora, a proeza de estar ao lado do governo Lula, mesmo tendo cargo de destaque na equipe de Tarcísio de Freitas (Republicanos). E isso deve ter impacto na política local e regional.
Impactos
O Senado é por vezes considerado uma casa revisora, que serviria para aprimorar projetos aprovados pelos deputados. Na prática, ele tem a iniciativa de apresentar propostas. E qualquer projeto de interesse do presidente da República precisa ser necessariamente passar pelo crivo dos senadores. Ter a presidência dessa casa de leis significa que o PSD, de Kassab, terá força para decidir o fluxo de andamento dos projetos essenciais para o novo governo federal. O presidente do Senado, por exemplo, pode deixar de colocar em tramitação uma proposta enviada pelo presidente – ou pelo menos atrasar seu andamento por tempo considerável. Isso aumenta de maneira considerável o poder de barganha da legenda. No complexo xadrez eleitoral que se desenha para o ano que vem, o PSD deve vir com força e tende a se tornar uma opção preferencial para eventuais candidatos. Não é à toa que tanta gente na cidade e na região anda cogitando entrar para a legenda.
Dupla moral
As redes sociais são um ambiente, por assim dizer, sui generis, sobretudo nas discussões sobre temas públicos. A matéria da edição de anteontem de O Regional, que tratou da operação realizada pela Polícia Militar (PM) com foco nas motocicletas e bicicletas com motores a combustão ou elétrico que estejam transitando em desacordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), despertou comentários muito inusitados e que demonstram a moral dúbia de parte de nossa população. Não faltou gente se queixando da medida, alegando que isso prejudicaria os trabalhadores. Ora: a lei vale para todo mundo ou ela pode ser relativizada, quando convém ao freguês? Se existe uma regra para a utilização desse tipo de veículo, ela não é um mero capricho das autoridades. Ela foi criada porque o mau uso de um veículo inadequado pode matar. Quem duvida não faz ideia do que é colidir contra um poste ou um muro, sem estar usando equipamento de segurança, a bordo de uma bicicleta motorizada em alta velocidade. Não estamos recomendando que ninguém faça isso, porque sabemos que a situação será trágica.
Sofisma
Sofisma é um raciocínio que consiste em desviar o foco da discussão para um tema acessório ou que nada tem a ver com o que se está debatendo. No caso da notícia sobre apreensão de bicicletas motorizadas, o que interessa saber é se veículo e condutor estão regularizados. O resto é malabarismo retórico. O fato de a pessoa ser trabalhadora não dá a ela o direito de por a vida alheia (e a própria) em risco. Aliás, se o argumento do trabalho como escudo para toda e qualquer punição fosse levado ao extremo, imaginem onde iríamos parar...
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