PENEIRA FINA – 01.11.22

Nervos à flor da pele

A campanha presidencial acabou, mas os desgastes e feridas que ela provocou continuam. Ontem, caminhoneiros revoltados com o resultado da eleição resolveram realizar bloqueios em rodovias da região, incluindo as ruas pistas da Washington Luís, em Catanduva. Em diversos municípios brasileiros ocorreram ações semelhantes. Um sinal de que as coisas demorarão um bom tempo para retornar à normalidade.

Prontos para a revanche

Além dos caminhoneiros, um grupo de comerciantes resolveu elaborar uma lista de estabelecimentos que deveriam ser boicotados em Catanduva, pelo fato de, supostamente, esses locais terem donos ou funcionários petistas. O conteúdo da lista vazou pela manhã, ocasionando muita discussão.

Radicalizou

A deputada estadual eleita Beth Sahão (PT), que sempre procurou transitar bem entre o eleitorado conservador de Catanduva (tanto que conseguiu ser a mais votada na cidade), acabou cometendo uma indiscrição, ontem à tarde. Ela enviou um áudio de WhatsApp, aparentemente para algum grupo que concentra eleitores petistas, conclamando-os a responderem à suposta autora da “lista dos proibidões do comércio”. Demonstrando muita irritação na voz, Beth chegou a utilizar alguns termos, vamos dizer, pouco abonadores para se referir à mulher, uma cabeleireira. O problema é que algum “aliado” resolveu compartilhar esse áudio com outras pessoas. E, em pouco tempo, a cidade toda tomava conhecimento do conteúdo indiscreto.

Mitos

A eleição deste ano serviu para quebrar alguns mitos e consolidar algumas verdades. Por um lado, caiu por terra a ideia de que apoiador local empurra voto para candidato majoritário. Isso pode até funcionar com deputados. Mas, com governador e presidente, isso não funciona. Prova disso é que, em Catanduva, o apoio do governo local ao candidato Jair Bolsonaro (PL) não serviu para sequer aproximar a votação do presidente do resultado por ele obtido na cidade em 2018. Bolsonaro teve 46 mil votos neste ano, ficando abaixo dos quase 50 mil que alcançou na última eleição.

A grande força local

Por outro lado, esta eleição serviu para comprovar que a grande força política existente em Catanduva, na atualidade, não é uma pessoa ou partido, mas sim uma ideia. O antipetismo é que dita os rumos da política local e vamos provar como e por quê.

Últimas eleições

Em todas as eleições realizadas na cidade, na última década, o PT conseguiu ultrapassar a marca de 20 mil votos apenas duas vezes: em 2012, quando Beth Sahão perdeu a prefeitura para Geraldo Vinholi, que se elegeu com forte discurso antipetista. E neste ano, com os 20,6 mil votos de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Em todas essas ocasiões, porém, o voto do eleitor, via de regra, sempre acaba fluindo para o candidato que tem melhores condições de derrotar o PT.

Aécio

Muita gente poderá dizer, por exemplo, que Catanduva é uma cidade bolsonarista, por conta do ótimo desempenho que o atual presidente alcança aqui. O núcleo que apoia Jair Messias aqui é forte e coeso. Mas, o que muita gente não imagina é que Bolsanaro não foi o candidato à presidência mais bem votado na cidade, nas últimas décadas. Essa láurea cabe ao tucano Aécio Neves, em 2014, quando disputou o segundo turno contra Dilma Rousseff. Ele recebeu essa votação imensa porque era quem tinha chance de vencer o PT. Da mesma forma que Geraldo Vinholi, em 2012, também se tornou o prefeito mais votado da história de Catanduva (em números absolutos), para derrotar o PT.

E o futuro

Muita água ainda vai rolar embaixo dessa ponte. O PT melhorou bem seu desempenho em Catanduva, saltando de 13,3 mil votos de Haddad em 2018, para mais de 20 mil de Lula. A legenda perdeu localmente, mas ampliou sua base. Resta saber se, numa eleição municipal, isso seria suficiente para deixá-la com chances reais de vitória. Ou se, na hora do vamos ver, o eleitorado acabará despejando votos em algum nome, pelo simples fato de ter chance de derrotar o PT. Esse filme nós vimos na última eleição municipal, aliás. Foi assim que Padre Osvaldo tornou-se prefeito.

Autor

Da Redação
Direto da redação do Jornal O Regional.