PENEIRA FINA – 01.01.23
Ano novo se inicia com indefinição na política local
O ano que se inicia traz consigo grandes mudanças no cenário político nacional e estadual, que deverão ter reflexos em Catanduva e região. Pela primeira vez, em 28 anos, o PSDB estará fora do Palácio dos Bandeirantes. Isso altera por completo a correlação de forças e a estrutura dos canais de interlocução, que sempre foram utilizados pelas lideranças locais e regionais, sobretudo na busca por recursos. Um xadrez complexo vai se desenhando para as próximas eleições.
Fortaleza ruiu
Tradicionalmente, a política nas pequenas e médias cidades do interior de SP é diretamente influenciada pelo governo estadual. Quem comanda o Palácio dos Bandeirantes acaba por montar uma rede de apoiadores, que atua como em um ciclo de retroalimentação: o mandatário local apoia o partido do governador, que por sua vez é apoiado pelo mandatário local na eleição seguinte (sempre com farto uso da máquina pública, em ambos os casos). Foi assim durante a ditadura, depois com o antigo PMDB e agora com o PSDB. A história demonstra, porém, que esse modelo de perpetuação no poder, por mais perfeito que pareça, sempre se esgota.
Tarcísio
Na última eleição, Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu sobrepujar o poderio tucano e levar a melhor na maioria das cidades do interior. Fez isso, apesar de prefeitos e vereadores apoiarem em peso Rodrigo Garcia (PSDB). Aqui reside uma grande diferença em relação às ruínas de modelos anteriores. Quando o velho PMDB caiu, em 1994, ele já não contava com a rede de apoio nos municípios. Ela havia migrado para o PSDB. Também, no fim da ditadura, a derrocada do partido do governo ocorreu ao mesmo tempo, nas cidades e no Palácio dos Bandeirantes. Neste ano, a coisa muda de figura. O PSDB caiu, apesar de contar com uma estrutura imensa que o sustentava. Mesmo tendo a máquina e muito dinheiro para gastar, as lideranças locais não tiveram força política suficiente para influenciar os rumos de suas próprias bases. Isso pode gerar problemas sérios para elas, em um futuro próximo.
Em quem buscar apoio?
Tarcísio de Freitas terá uma dor de cabeça e tanto, nos próximos meses. Para avançar ao segundo turno na condição de favorito, ele foi impulsionado por uma base formada por novas lideranças ligadas ao bolsonarismo, pessoas que, em sua maioria, não ocupam cargos públicos. Depois, para derrotar Fernando Haddad (PT), o futuro governador fez alianças institucionais com o PSDB, acabando por atrair todos os prefeitos que não tiveram poder e prestígio para eleger Rodrigo Garcia. Ora, o grande drama é que, pelos próximos dois anos, essas pessoas ainda estarão no poder. Qual caminho trilhar? Prestigiar as novas lideranças e tentar eleger uma base própria de prefeitos em 2024 ou cooptar os órfãos do PSDB?
Vontade não faltará
Se o caminho escolhido pelo novo governador for o de cooptar a base tucana, não encontrará qualquer tipo de resistência. Pelo contrário. Não faltará gente disposta a entrar na nova barca. A relação dos políticos locais com partidos não se dá por ideologia, mas sim por conveniência de estar próximo ao poder. Ao se filiar ao PSDB para disputar a eleição de 2020, Padre Osvaldo de Oliveira Rosa deixou isso bem claro, afirmando que o fazia pelo fato de o partido ter a chave do cofre para resolver os problemas de seu loteamento. Antes disso, ele já havia subido nos palanques de Afonso Macchione, Geraldo Vinholi e mesmo da petista Beth Sahão. Não estamos afirmando que ele mudará de partido. Mas, se trocar futuramente, alguém estranhará?
Será o melhor caminho?
A história recente demonstra que a estratégia de dar abrigo a órfãos do poder talvez não seja a mais efetiva. Os movimentos atuais de Tarcísio demonstram que ele aparenta não querer trilhar por esse caminho. Até agora, ele tem procurado prestigiar sua base orgânica. Vejamos o que os próximos meses nos reservam.
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