PEC das Bondades: trabalhadores e aposentados pagarão a conta da irresponsabilidade dos políticos

A sabedoria popular criou uma expressão que traz um ensinamento verdadeiro: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”. Nas últimas semanas, começou a ser debatida em tempo recorde uma proposta de emenda constitucional (PEC) que libera a criação de novos auxílios e benefícios sociais em pleno período eleitoral, sob o argumento de que estamos em estado de emergência, por conta da miséria e da crise econômica e social.  

Para início de conversa, somos inteiramente favoráveis aos auxílios. Porém, se a PEC for aprovada da forma como foi elaborada, vai romper com o Teto de Gastos estabelecido pela Constituição. A crise brasileira, que se arrasta desde 2015, ocorreu justamente porque o poder público gastou mais do que arrecadava.  

O país afundou-se na recessão devido à farra fiscal, que liberou a gastança, como se não houvesse amanhã. No fim, quem ficou com a conta amarga para pagar? Justamente os trabalhadores, aposentados e a parcela mais pobre da população, que passarão a ser submetidos ao famigerado arrocho salarial, à queda na qualidade dos serviços públicos e à inflação galopante.   

Os políticos precisam entender que fazer farra fiscal com o pretexto de garantir benefício a quem mais precisa é o mesmo que dar com uma mão e tirar com duas. A médio prazo, os efeitos colaterais da irresponsabilidade fiscal servirão para piorar ainda mais o padrão de vida do povo.  

Os deputados federais e senadores deveriam ter essa consciência. Porém, preferem agir com demagogia, empurrando a conta para o povo pagar – e com juros – no ano que vem. Fazem isto porque não querem mexer em seus próprios privilégios. Se os políticos com mandato quisessem mesmo ajudar o povo, existe um meio simples de arranjar dinheiro, sem incorrer em nenhum tipo de irresponsabilidade fiscal.  

Bastaria que todos os partidos, sem exceção, aceitassem dar fim à farra do bandido Orçamento Secreto e de suas emendas parlamentares (pessoais), que não passam de uma forma institucionalizada de manter currais eleitorais usando dinheiro público.  

Ao que parece, contudo, os partidos não estão dispostos a encarar esse sacrifício. Preferem fazer cortesia com o chapéu dos trabalhadores e aposentados, posando de caridosos com um benefício que tem prazo para começar e para acabar (em dezembro, logo após a eleição).  

Se o objetivo fosse mesmo ajudar o povo, não seria mais justo que os novos benefícios tivessem duração prolongada? Ou vão dizer que isso afronta a Constituição, sendo que ela já está mais do que aviltada pela PEC das Bondades?  

Ora, já que resolveram ultrapassar todos limites em busca de voto fácil, então por que não fazem ao menos algo que beneficie de verdade as famílias brasileiras? Os R$ 1 mil que serão oferecidos aos caminhoneiros e taxistas não pagam nem metade do combustível gasto durante o mês.

Por que não oferecem vouchers de pelo menos R$ 5 mil para caminhoneiros e taxistas? No caso do Auxílio Brasil, por que o reajuste será para R$ 600,00 e não para R$ 1 mil, sendo que os preços de quase todos os alimentos dispararam nos últimos meses? E por que a duração será apenas até dezembro deste ano, quando poderia ir até dezembro de 2023?  

Fica o desafio. Vejamos que político com mandato tem coragem para responder a essas perguntas com sinceridade. 

Autor

Nilton Cândido
Advogado, ex-vereador e articulista de O Regional