Pausa e Tempo

Vivemos no tempo da correria, das necessidades urgentes, da falta de tempo para fazermos pausa em nossas vidas: corremos. No trânsito, no trabalho, na esteira, nas ruas, para pegar os filhos na escola, para as férias, nas férias, para aparentar várias coisas que às vezes não sentimos: corremos.

A pausa faz parte da música, da dança, entre as falas, das férias, e, no entanto, tiramos ela de nossas vidas com nossa onipotência desmedida na ilusão de ganharmos tempo.

Sabemos que cabe à mãe estabelecer a sincronicidade entre as necessidades do bebê e as respostas do ambiente. No entanto, o ritmo a ser construído nesta relação não depende exclusivamente desta dupla, mas sim da figura paterna e mais adiante dos vínculos familiares e sociais. A presença do pai cria e sustenta os limites do apetite amoroso da mãe em relação a seu bebê e sua presença administra a singularidade desta relação, tão fundamental no processo de individuação. Sua presença é capaz de proporcionar a introdução do bebê no mundo, este que se sustenta na exigência do tempo, acorde necessário que estabelece pausa e tempo.

Adaptar-se ao ritmo de compromissos e atividades aceleradas pelas urgências muitas vezes nos leva a um afastamento de contato íntimo e de aspectos fundamentais de nossa existência, sendo a pausa, o grande norteador que irá nos fazer capaz de olharmos para nós mesmos. Até entre dois dias existe a pausa e o tempo: dormimos. Ele diferencia o que foi do que vai ser, e por assim ser, é capaz de mesmo sem ação e movimento tornar o que vem depois diferente do que foi antes. 

Quando temos muitas coisas para fazer e não fazemos pausa, não conseguimos enxergar o que de fato queremos, o que é importante e essencial. Sem estabelecer prioridades, enchemos nossa rotina fugindo de nós mesmos, talvez até para não sentirmos angústia por não podermos entrar em contato com nós mesmos, com o que de fato somos e queremos ser, não nos priorizamos. Para onde isto vai nos levar?

Não podemos viver sem a pausa, não podemos pensar a vida sem descanso, sem paradas, sem intervalos, sem o tempo.

Este texto escrito com a música “My Baby Just Cares for Me”, com Nina Simone.

Fazendo pausa eu consigo enxergar o outro,

 fazendo pausa para poder desfrutar do tempo, 

para olhar o outro e ter tempo.

Autor Desconhecido

 

 

Foto: Renato F. Araújo

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Renato F. de Araujo @renatorock1 ©