Passe um tempo sozinho

A psicanálise é uma prática que permite saber algo do inconsciente, este que fabrica sintomas dos quais padecemos. É uma cura específica, às vezes difícil, mas valiosa porque a partir do próprio autoconhecimento acessamos formas de ser no sentido de ter mais autonomia sobre as próprias escolhas.

A partir da análise passamos a nos enxergar melhor e de maneira mais livre, tendo a oportunidade de conhecer nossa maneira única e singular de olhar o mundo, e somos colocados em contato com a pessoa que fomos, somos e com quem queremos ser, e serve para diminuir toda forma de sofrimento seja de base neurótica, somática ou superficial que insistentemente tentam nos mostrar que algo não vai bem.

Quando nos submetemos ao processo, reduzimos sofrimentos desnecessários descobrindo novas formas de ser e tornamos a experiência cotidiana mais rica e interessante porque ao aprender sobre nós, reconhecemos e tomamos as rédeas da própria vida entendendo porque insistimos em coisas desnecessárias brigando por motivos doentios, sobretudo querendo mudar o outro quando na verdade deveríamos ocupar este tempo com as próprias mudanças para a partir de então ser capaz de romper com aquilo que nos adoece e que dificulta encontrarmos caminhos possíveis de viver a vida desejando o melhor para os outros e para nós mesmos.

Fazer análise nos ajuda a conhecer o melhor e o pior de nós e facilita entender que nossas escolhas não são tão livres quanto pensamos, mas fruto de nossa própria ignorância.

É um caminho que quanto mais percorremos, entendemos que a vida deve e pode nos pertencer a ponto de sabermos reconhecer com quem e onde devemos estar, assim como para as coisas que de fato nascemos. E mesmo enquanto não conseguimos saber, sendo uma busca as vezes difícil de realizar, o sentimento de estar em contato com nossa própria subjetividade nos dá elementos para desconfiar que sem este caminho pouco ou nada podemos fazer por nós mesmos.

Para se submeter ao tratamento é preciso coragem para se olhar sem máscaras e sem projetar no outro o desarranjo de nossa própria infelicidade, tendo clareza para se ver por inteiro diante de tudo o que nos afasta de nós mesmos.

E a partir de então, uma vida com mais proximidade se abre a nós movida pelo tanto de coragem que conseguirmos ter enquanto desejo de se submeter a este rico e difícil processo, mas libertador. Bem-vindo 2024, estamos aqui!

Música “Chamber of Reflection” com Mac Demarco

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br