Passar adiante
Nasci em uma família humilde na cidade de São Paulo, onde vivi por 32 anos. Meu pai, comerciário, nunca teve carro e morava de aluguel em um bairro periférico. O estudo dos filhos sempre feito em escola pública. Mas no ensino fundamental eu me destaquei especialmente em Língua Portuguesa e por isso a minha professora sugeriu que eu cursasse o ensino médio em um colégio particular que oferecia então um curso técnico de Redator. Como a família não tinha como arcar com o pagamento para esse estudo, não tive dúvida e fui, acompanhado da minha mãe, pedir uma bolsa de estudo para as freiras. E elas acolheram o pedido.
O estímulo da minha professora de Língua Portuguesa e a generosidade das freiras do Colégio São Vicente, abriram um caminho que eu consegui trilhar e que me trouxe às minhas circunstâncias atuais: sou um juiz federal próximo da aposentadoria, com família constituída e filhos bem encaminhados no estudo e no trabalho. Mas esse caminho também me trouxe à percepção de que a conquista das coisas que desejamos e necessitamos não depende apenas dos nossos esforços pessoais: depende também de termos oportunidades.
Não basta ser uma pessoa forte para vencer. Assim como não é sábio esperar que as coisas simplesmente caiam em nossos braços, não é justo partir da premissa de que o forte vencerá apenas em razão da força. Quando adolescente eu fui atrás de uma oportunidade de estudo, e ela me foi concedida. Eu fiz a minha parte e assim consegui resultados pelos quais sou muito grato. As conquistas não são consequência exclusiva de mérito pessoal, mas dependeram de ações concretas de pessoas que contribuíram, como a professora que me inspirou, a mãe que apoiou, a freira diretora do colégio que acolheu meu pedido, e assim, de tantas outras pessoas que de alguma forma fizeram parte do caminho.
Mas não basta ir atrás de oportunidades, não basta conseguir apoio, não basta trilhar o caminho e atingir os resultados pretendidos. O ciclo não fecha até que tenhamos tomado a decisão e tomado a atitude de passar adiante, o que significa que nós, que fomos beneficiados (e quem não foi?…), devemos abrir portas para outras pessoas que também precisam de oportunidades.
É assim que, conjugando esforço pessoal com oportunidades, todos poderão erguer o edifício da própria prosperidade, com os tijolos do estudo e do trabalho, mas com a argamassa da compaixão. Sim, porque o progresso exclusivamente material é como um castelo de areia que se desfaz em pouco tempo. Mas quando avançamos no estudo e no trabalho também com a motivação de gerar benefícios aos outros, a prosperidade fixa seus pilares no solo da espiritualidade, e os resultados assim se projetam auspiciosamente no tempo e no espaço.
Foi assim que surgiu o projeto que apelidamos de 'Apoio ao Estudo', em que um grupo de pessoas se uniu para ajudar crianças e adolescentes em seus estudos. Hoje temos oito pessoas, com idades entre 6 e 15 anos, que estão acessando oportunidades até então impossíveis para eles. Neste mês acolheremos mais uma criança e uma adolescente, não apenas para inspirá-las a caminhar (como uma professora), mas também para estar ao lado delas (como uma mãe), acolhendo-as seu sonho de aprender (como fez aquela diretora de colégio, quando eu tinha apenas 14 anos).
E nessas crianças e adolescentes depositamos a nossa confiança não apenas de que sejam felizes, mas também de que passem adiante, e se tornem instrumentos da criação de oportunidades, e da construção da felicidade para muitas outras pessoas.
Quem quiser conhecer o projeto me chame.
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