Para todas as idades

"Disseram tudo sem falar nada!”

ANA LYS

Estudante. Catanduva-SP.

 

A estreia de "Bebês - o espetáculo", da Cia. da Casa Amarela, no Sesc Catanduva, no último domingo, foi um misto de sentimentos e sensações que nos emocionou muito, bem como o público em geral, crianças, adolescentes e adultos. Cada um sentiu e entendeu a montagem à sua maneira. Isso é Arte! Arte é inteligência, sensibilidade, humor e estranhamento. Tudo isso está presente em "Bebês - o espetáculo", com dramaturgia, direção e encenação da família Drika Vieira, Carlinhos Rodrigues e Ian Costa.

A Cia. da Casa Amarela não se tornou uma referência na dramaturgia infantil por acaso. É fruto de pesquisa, trabalho, buscas e ousadia. Muitos anos!!! Muita semeadura. Tudo com delicadeza e poesia. A forma como tudo chega na plateia causa reações diferentes, sutis, intensas, provocativas, delicadas, emocionantes, enfim, uma gama de sensações cujo retorno dos presentes sempre nos emociona e entusiasma.

"Bebês - o espetáculo" tem tudo isso.

Quando anunciamos o título da peça, muita gente "torceu o nariz". Ao publicarmos as primeiras fotos do trabalho, a frieza foi enorme. As imagens de três adultos vestidos de bebês, em poses infantis, levaram muitas pessoas à um indisfarçável pré-julgamento, o qual já estamos acostumados e vacinados.

Quando estreamos o premiado e elogiado “Vincent – por um toque de amarelo”, falando de Van Gogh para crianças, em 1999, no Teatro Cacilda Becker em São Paulo, a desconfiança era enorme. Pessoas chegaram a nos dizer para não produzirmos uma peça assim porque não daria certo. Deu. A mesma coisa se deu com “Candim”, sobre Candido Portinari, “A Lua e o Poeta”, sobre Federico Garcia Lorca ou ainda “Bela Flor Bela”, sobre Florbela Espanca. Há um receio geral, fruto da falta de percepção e olhar, muitas vezes em função da ausência da vivência artística, cultural, que não permite às pessoas visualizarem uma arte que não seja aquela formatada, restrita e conservadora.

Houve até quem disse que "quero muito assistir uma montagem de vocês", ou seja, significa que nunca viu..., "mas quando fizerem algo para adultos me avisem". E nós seguimos. Estreamos "Bebês" ontem, no Sesc Catanduva, e lá estavam crianças, adolescentes, jovens, adultos... e o que viram? Teatro. Arte. Crítica. Reflexão. Humor. Tristeza. Medo. Agressividade. Amizade. Egoísmo. Criatividade. Filosofia. Música. Certamente, 40 minutos de muitas informações, emoções e material para se levar para casa. Para filhos, pais, avós, educadores... "Bebês" revela o que fazemos do mundo e o mundo faz de nós.

A atriz catanduvense Fernanda Doro definiu bem o que foi a experiência de assistir “Bebês”, afirmando “que espetáculo emocionante! Vai de um riso genuíno a um soco no estômago. Vocês são espetaculares.”

Não é imagético. Não é superprodução visual vazia e superficial. É Teatro! É Arte! É Verdade! É autêntico!

Com 28 anos de trajetória, a Cia. da Casa Amarela apresenta mais uma produção de qualidade, originalidade, sensibilidade e profissionalismo. Isso muito nos orgulha porque ter uma assinatura, uma identidade criativa em meio a tantas produções duvidosas e manter essa excelência sem perder-se, não é fácil.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.