Papel nosso de cada dia

O homem é um ser social, como afirmou Aristóteles e todos temos um papel na sociedade e somos parte dela como sabiamente assim definiu o pensador francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778), em sua célebre e marcante obra “O Contrato Social.” Por mais paradoxal que possa ser, Rousseau se valeu de uma folha de papel para dizer da importância do ser humano na vida em sociedade. E, esse mesmo papel, físico, tangível e de multi utilidades que resiste ao tempo desde que foi criado no ano 105 d.C, pelo o chinês T’sai Lun, ao realizar experimentos com uma tela de pano esticada no bambu e aplicação de fibras maceradas, descobriu um suporte que absorvia melhor a tinta. Assim, aquilo que foi inicialmente criado para a anotação dos registros que, até então eram feitos em papiros e pergaminhos, ganhou o mundo como um dos produtos de mais utilidade e versatilidade até hoje criado. Indispensável para impressão de livros, jornais, revistas, cadernos, agendas, cartazes etc, é também muito utilizado no comércio como papel de embrulho, presente e empacotamento, na construção civil como revestimento de paredes e divisórias e mais recentemente na produção de móveis e camas recicláveis, como os que estão equipando os alojamentos construídos para receber os atletas da próxima olimpíada de Paris. Esse mesmo papel não passou despercebido quando, dia desses, Bento, meu neto de pouco mais de cinco anos, me disse – “Vovô, você sabia que o papel vem das árvores?” E acrescentou – “As árvores também fazem sombra!”. Confesso que não me surpreendi porque as crianças de hoje recebem muitas informações, mas essa colocação e preocupação com o meio ambiente me fez voltar ao ano de 1960, quando com 10 anos de idade e aluno do 3º ano primário (atual fundamental) no Grupo Escolar de São Francisco, escrevi algo mais ou menos semelhante ao discorrer sobre o tema “Importância e necessidade do reflorestamento”, cuja folha de caderno original me foi entregue depois de 40 anos pela minha professora, à época, Aparecida Manzano Benitez, que carinhosamente a guardou. Não me canso de ler e reler essa composição escrita há 64 anos atrás, da qual destaco alguns trechos, respeitando o texto original, tal como foi escrito, inclusive com os erros de ortografia, próprios de uma criança de dez anos: – “Devemos cuidar da árvore porque ela vive para nosso bem. Ela nos é útil em toda estações do ano. E na árvore que os passarinhos se abrigam e constroem seus ninhos. A árvore além de alegrar além de dar os frutos saborosos nos da saúde purificando o ar que respiramos. São tão boas que ainda nos oferece madeiras para construções, lenha e carvão. Devemos plantar mais e mais arvores porque nos dão tudo.” Diferente do meu neto, seguramente eu não sabia que aquela folha de caderno, hoje amarelada e esmaecida pelo tempo, tinha como origem a mesma árvore que eu a descrevi como uma das mais belas maravilhas da natureza. Pena que os homens, com os seus interesses econômicos, não pensam como as crianças de hoje e de anos idos também.

Fonte: trechos extraídos de https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/historia-sobre-papel/

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.