Pão e Liberdade

“A liberdade, Sancho, não é um pedaço de pão. (Dom Quixote)”

MIGUEL DE CERVANTES

Romancista e dramaturgo espanhol (1547-1616)

Dom Quixote de la Mancha é uma obra extraordinária, revolucionária e pode ser considerada uma das maiores ficções de todos os tempos. Miguel de Cervantes faz uma paródia dos contos de cavalaria através de seu personagem central, Dom Quixote, e faz de sua obra uma das mais importantes já escritas em todos os tempos.

As frases de Dom Quixote se eternizaram, ficando na memória coletiva de tantos povos, pois que representam a humanidade em sua essência.

E a liberdade, ao lado de tantos outros temas necessários, está no cerne desse monumental livro.

A batalha de Dom Quixote – que em suas próprias palavras – é seu repouso, abrange uma luta constante do cavaleiro em busca de seus sonhos, justiça e liberdade.

Porém, essa liberdade não é fugaz. Nem tampouco, ilusória. É a realização plena de uma existência dedicada à luta humana, à imortalidade, pois não há futuro sem a mínima vivência de liberdade.

O pão satisfaz a fome imediata, mas não nos proporciona o alimento perene.

As políticas culturais, em grande parte, visam oferecer o pão sem acenar para um futuro de plenas realizações que permaneçam.

Pois se o artista precisa, sim, sobreviver materialmente, necessita antes de tudo, resistir às intempéries da frieza, do desinteresse e da sua intrínseca verdade que é produzir Arte sem medo e sem limites.

“A liberdade é um dos mais preciosos dons que os homens receberam dos céus. Pela liberdade, assim como pela honra, se pode e se deve aventurar a vida”, completa o cavaleiro da triste figura.

Essa liberdade inspira, mobiliza e sustenta o artista. Ser tratado como um mendicante é esfolar sua alma porque o investimento na cultura tem que recorrer as necessidades presentes mirando o futuro. E esse amanhã é a garantia que o artista terá para continuar criando, arriscando e se reinventando. Esse investimento de políticas culturais visando o futuro não é utopia. Já existe, inclusive em alguns setores e locais culturais no Brasil, porém ainda são poucos.

Uma política cultural legítima criará condições para que o artista tenha pão hoje, contudo não se resumirá a isso. Ela abrirá caminhos diversos para que o artista se sinta livre e continue a criar sem medo, sem pausa.

Não é uma questão de ser sustentado pelo poder público, mas a de ter investimentos que mantenham os projetos culturais democráticos, ao alcance de todos, sempre.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.