Palpiteiros da Educação

Vamos iniciar com uma frase atribuída a Júlio Pillar, que diz o seguinte, “Todos querem dar palpites na educação, mas raros são os corajosos dispostos encararem uma sala de aula no Brasil”, com isso, podemos notar que há uma imensidão de pessoas que gostam de apontar quais são os meios e formas de educar. Entretanto, muitos desses, são os mesmos que nunca aparecem na escola de seus filhos, são os que relegaram às unidades educacionais a totalidade da educação de seus filhos, quando é sabido que é um dever tanto do estado, quanto da família.

Muitos desses que desejam uma escola da obediência, sequer acompanham a vida escolar e social de seus filhos, mas é óbvio que nunca admitirão, querem encontrar na proposta de uma educação apascentadora a justificativa de sua própria falha enquanto pais, por isso, preferem que seus filhos estejam à mercê da coação militar do que assumirem seus papeis enquanto pais e enquanto educadores mediante a sociedade.

“Mas na minha época não fazíamos isso, aquilo e  etc.”, as épocas mudaram e hoje, não se usa mais de violência para educar, mesmo ouvindo de muitos que isso ajudaria nos casos de desobediência e violência escolar... Sinto informar que vocês todos também fazem parte do problema, pois muitos desses adolescentes violentos são desamparados em casa e chegam à escola a revelia de suas próprias convicções de mundo, porque seus pais estão muito mais preocupados consigo mesmos do que em sentar um pouco e dialogar com seus filhos.

Chegam à escola invisíveis, inaudíveis e sem perspectiva, quando não, são tidos como estranhos, alienígenas de uma mesma espécie e dai, alvos de uma quantidade absurda de outras tantas violências. Isso vai estigmatizando, machucando, traumatizando e em casa, os defensores da militarização, estão mais preocupados com o que Bolsonaro e Lula estão fazendo, deixando seus filhos sofrerem.

Concomitantemente a isso, temos os professores que estão alinhados a essa ideia absurda, professores esses que hoje, estão mais para técnicos, uma vez que faz anos que não pegam um livro teórico para ler, já que precisam apenas reproduzir o que está estipulado nas apostilas e materiais didáticos. São professores, que muitas das vezes, alinhados a ideia de obediência como um parâmetro para qualificar alunos como bons ou não, esquecem que o principal meio para que conquistem respeito é respeitando. O processo de respeito mútuo não pode ser impositivo, nem tampouco é um processo coercitivo, visto que podem conquistar uma obediência momentânea, mas que não refletirá em uma mudança de paradigmas reais que refletirão na sociedade.

Escola, família e professores deveriam ser parceiros, isso quer dizer que deveriam fazer parte de forma ativa na escola, mas isso requer educação para compreender os processos de ensino e aprendizagem, de participação enquanto membros da sociedade e membros da família desses educandos. Mas uma coisa é certa, é muito mais fácil dar palpites naquilo que não conhecem e não desejam conhecer do que encarar uma sala de aula... Que por sinal, não tem nada de dom, é uma profissão e que demanda constantes formações, um trabalho que muitas vezes não cessa quando se termina o horário da aula, mas poucos desses que tanto apelam pela militarização, reconhecem, estão com a cabeça repleta de discursos idiotizados sobre uma doutrinação, discurso recorrente desde antes da Ditadura. É, falta estudo, pesquisa e competência para compreenderem a real importância da educação para a sociedade.

Quando deixamos de lado a premissa de estudar para comentar algo, reproduzimos o vexame do Danilo Gentili sobre Paulo Freire, repetimos as falácias sobre esse incrível educador de referência mundial, pois apenas reproduzimos uma enxurrada de besteiras pelo simples fato de desconhecer e se negar a conhecer porque meu político de estimação falou isso ou aquilo...

E por falar em Freire, encerro com essa reflexão “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, para isso, a escola não pode ser quartel, nem acharmos que uma educação para obediência mudará a sociedade e nem tampouco os casos de violência, devemos pautar por uma educação para a cidadania, em que todos podem e devem ser ouvidos, terem voz e acolhidos, todos...

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva