Pai Gerante

Gerar um filho é uma experiência que marca a vida de uma pessoa para sempre. Seja da forma que acontecer, enquanto instância psíquica, a transformação da realidade física, espacial e subjetiva enquanto incumbência prática e ativa é sentida individualmente, percebida pelos filhos de maneira única e para sempre.

O filho nasce, e desde o momento de sua concepção ele já participa ativamente enquanto desejo de vir ao mundo, assim como sentindo as impressões de quem o está desejando, e na maneira como nos comportamos, as vivências contidas nesta experiência irão afetar todos e tudo o que sentimos e pensamos de nós mesmos para sempre, inclusive o bebê.

Gerar deve ser compreendido não somente como um espermatozoide e um óvulo que se unem, mas sobretudo no desejo de participar ativamente desta rica e transformadora experiência que demanda tempo, dedicação, coragem, empenho, e sobretudo disposição interna para uma vivência individual diante de cada nascimento que acontece dentro de uma família, sendo eles únicos, adotados, gêmeos, trigêmeos, etc.

Enquanto a mãe ou quem faz este papel tem uma função primordial de reconhecimento e individualização do bebê gerado pela experiência do nascimento e amamentação, a presença do pai ou de quem faz este papel introduz o filho no mundo, e dependendo como tudo acontece no momento do édipo, as normas da lei tem uma função de normalidade diante da imagem representativa que estabelece ordem e que deve fazer jus dentro da constituição do filho.

A questão do desejo de ter filhos demanda um grande empenho visto que ambos precisam estarem abertos a possibilidade de os filhos virem, e se não estão em sintonia, podem ocorrer discursos latentes e manifestos que se não alinhados, a ocorrência de uma gravidez inconscientemente desejada, mas conscientemente não planejada é sentida pela dupla e por quem vai nascer de maneira a poder dificultar uma experiência reconhecida, sentida pelo bebê como não sendo esperado e desejado.

No inconsciente os registros são sentidos desde a concepção de maneira não nomeáveis, e dessa forma, cada vez mais a gestação deve ser pensada como possibilidade diante de um desejo inconsciente dos três: pai, mãe e bebê.

Não devemos estar na condição de subjugar o aparato psíquico de um bebê, e quanto mais todos participam ativamente da experiência subjetiva contida nesta vivência, mais o bebê vai sentir o ambiente como acolhedor, possibilitando que um gere o outro ativa e constantemente.

Aos pais, diante desta importante incumbência de reconhecimento ativo no mundo, sua função torna-se a grande ferramenta cultural que seu filho irá acessar para se reconhecer, e desta maneira, quando acontece de forma a perceber-se dentro e no entorno, mais marcas enriquecedoras deixarão para sempre, sejam elas quais forem. Aos pais com carinho!

Este texto foi escrito ao som da música “Samba de Verão” com Caetano Veloso e com Badulaque.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Edgar Maluf @edgar.maluf ©