Pai, até algum dia...

Nessa última semana, o Mané, Manézinho ou Maneco, como minha mãe o chamava, após 100 anos bem vividos, partiu fazendo a sua última e derradeira viagem. Deixou os quatros filhos, além de doze netos e onze bisnetos, órfãos da sua presença física, mas, sobretudo dos seus ensinamentos sempre sábios. Com certeza nessa altura já estará junto com a sua Julinha (minha mãe), que está no plano do Senhor desde janeiro de 2014 e também ao lado do tio Tonico e da tia Graça, que partiram muito anos antes, cunhados e melhores amigos em vida e agora vizinhos de jazigo. Estou até imaginando minha mãe dizendo ao recebê-lo: Maneco, porque você demorou tanto? Vou sentir saudade de não mais poder levar a costelinha de porco que o senhor tanto gostava e partilhar da sua companhia infalivelmente em todos os domingos de manhã. Mas, também vou sentir saudade da sua preocupação para com o trabalho dos filhos e dos netos e, porque não, até mesmo das suas ranhetices (quem não as tem?), próprias das pessoas que ultrapassam a casa dos oitenta, noventa, cem e por aí vai.... Não vou me esquecer quando, ainda criança, me levava para assistir aos jogos do Catanduva e depois do Grêmio, transmitindo a mim e ao meu irmão Pedro a paixão em ser corinthiano, paixão essa que se irradiou para todos os filhos e netos. Vou sempre me lembrar das histórias que ouvia desde criança do boi soberano, da festa no céu na qual o sapo foi de penetra, dentre outras. Dizem que todos que se vão deixam um legado, o senhor, pai, deixa um legado de família, de princípios, de ética, de exemplos e principalmente de vida. Certa feita alguém escreveu que, aquele que um dia passou lições de vida ao próximo, não parte, mas sim, deixa parte de si em nossas vidas. Eu sempre soube que o senhor faria uma falta danada. Só não sabia que essa tal “danada”, era impossível de se dimensionar. Diz um sábio ditado que tudo o que temos se perde na partida, porém tudo o que somos permanece na despedida. Assim é a vida, mas uma coisa é certa – o que o senhor foi em essência, continuará sendo em cada um dos seus porvindouros e pósteros. Como escreveu a jornalista e amiga da minha família Silvia Stéfane Fonseca – “Infelizmente o tempo tem o poder de tirar do nosso convívio essas pessoas tão especiais, que deveriam viver para sempre ensinando com seu exemplo.” Apesar de muito triste, esse é um momento de agradecer a Deus por permitir uma vida tão longeva e dizer que esse pequeno grande homem que se foi passa a morar eternamente no coração dos que o amaram, principalmente dos filhos. Há quem diga que a saudade é a presença da ausência de alguém, mas pode ser também a ausência da presença. Certo é que, essa ausência, doravante, se fará eternamente presente. Até algum dia Manézinho. Se o senhor sempre se dizia orgulhoso de mim, saiba que eu sempre tive e continuarei a ter o maior orgulho em ser seu filho.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.