Padre Albino antes de Catanduva
Aproveitando o mês de setembro, principalmente no ano em que se completam 50 anos do falecimento de Padre Albino, retratarei, em algumas matérias, assuntos ligados à esse grande homem que Catanduva teve o prazer de receber.
A matéria de hoje pretende resgatar um pouco da vida de Albino Alves da Cunha e Silva antes dele chegar em Catanduva.
Nascimento e escolha
Albino Alves da Cunha e Silva nasceu em 21 de setembro de 1882, na aldeola denominada Codeçosso, Concelho de Celoríco de Basto, província do Minho – Portugal.
Era filho de Avelino Alves da Cunha e Silva e Ana Joaquina da Mota e Andrade, pessoas com alto grau de religiosidade e possuidores de uma fortuna considerável.
Possuíam características de uma família de classe média do século XIX, vivendo uma vida de necessário conforto, sem muito luxo e vaidades, e foi nesse ambiente que Albino foi crescendo.
Atingindo a idade de ir para a escola, ingressou no curso primário na cidade de Amarante. Pelo seu bom comportamento, sempre se destacava no meio escolar.
No final do curso secundário, Albino começou a pensar qual profissão escolheria para sua vida. Depois de muitas dúvidas e de muito rezar, decidiu que iria ser padre, entregando-se de corpo e alma para a religião católica.
Seu pai não gostou muito da ideia, já que pretendia ver o filho formado em Direito. Já sua mãe adorou a ideia, imaginando como seria ver seu filho nos altares de uma igreja.
Vigário na terra natal
Após ter sido ordenado padre, Albino foi mostrando sua grande capacidade de disposição pelas coisas sagradas e pelo bem comum, o que logo lhe foi dado uma paróquia para ele tomar conta em sua terra natal.
Assumiu a tarefa, mas não quis morar na casa paroquial, pois preferiu ficar morando na casa de seus pais, já que estes eram abastados e tinham condições de dar tudo aquilo que o filho sacerdote necessitava.
Sua vida eclesiástica coincidiu com a grande Revolução de Portugal, que eclodiu em 03 de outubro de 1910, com a proclamação da República do país dois dias depois.
Logo de início, foi criado um Governo Provisório, onde este realizou algumas mudanças na legislação do país, como por exemplo, um decreto que suprimia os mosteiros, os conventos e os estabelecimentos religiosos.
Além disso, deu-se a separação entre o Estado e a Igreja, foi instituído o divórcio, a secularização dos cemitérios e a proibição do ensino religioso nas escolas primárias.
Alguns elementos do Clero acomodaram-se com a situação, outros, porém, resistiram às mudanças.
Padre Albino foi um dos que não aceitaram as ordens liberais e acabou se revoltando a favor de sua fé. Por causa disso, acabou sendo preso e condenado ao degredo na África.
A fuga para o Brasil
Diante da real situação que se apresentava ao padre, este arrancou sua querida batina, deixou crescer o bigode, colocou um terno modesto e fugiu de sua querida terra natal.
Em uma jornada a pé, partiu da cidade de Amarante até Braga, onde de lá pegou um trem e foi à Monção, na divisa da Espanha. Estando ali, procurou pelo padre que foi o seu vigilante no Seminário, que conseguiu que um contrabandista o introduzisse na Espanha.
Em seguida, Padre Albino morou em uma pequena vila espanhola de nome Tuí, aguardando o momento oportuno para deixar sua terra e sua gente.
Nesta época, encontrava-se encourado no porto de Vipo o vapor “Zelândia”, destinado a trazer para o Brasil os considerados foragidos do novo regime.
Vale destacar que Padre Albino sempre recebeu ajuda de seu pai, que por isso acabou sendo preso e sofrendo até maus tratos pela polícia. Padre Albino ficou em uma situação que não podia contar com muita gente, chegando a ficar só com a roupa do corpo e sem dinheiro.
Quando estava partindo para o Brasil, recebeu ajuda de seu amigo de classe, o Sr. Cardeal Cerejeira, que lhe deu um pequeno auxílio em dinheiro.
Provavelmente a viagem foi árdua, pois ele se encontrava com pouco dinheiro e pouca roupa, numa situação de imigrante fugitivo, sem poder prever quando voltaria para sua querida pátria.
Chega ao Brasil
No dia 21 de setembro de 1912, com 30 anos de idade e 07 de sacerdócio, pisou pela primeira vez em terras brasileiras.
Com seu terninho esfarrapado, bigodinho crescido e mal alimentado, permaneceu entre os imigrantes que para cá vieram, dormindo sobre uma esteira, estendida no chão.
Do Rio de Janeiro escreveu ao seu grande amigo jesuíta, padre José Coelho da Rocha, fugitivo também de Portugal, que residia em São Carlos, ao lado D. José Marcondes Homem de Mello – bispo daquela diocese.
O jesuíta intercedeu pelo Padre Albino diante do senhor bispo que, a princípio, julgou ser o padre Albino algum sacerdote pouco digno. Porém, D. Marcondes resolveu aceitá-lo, nomeando-o como coadjutor do padre João Carreli na paróquia de Jabuticabal, depois coadjutor na paróquia de Jaú.
Mais tarde, foi vigário na cidade de Barra Bonita, iniciando nessa localidade, de imediato, a reforma da Igreja. Como sempre fôra de seu feitio, movimentou a vida religiosa e foi adquirindo o necessário para bem funcionar a fim de conseguir dinheiro suficiente.
Na paróquia de Barra Bonita padre Albino ficou até 1918. O Sr. Bispo Diocesano, sabendo da capacidade, piedade e prudência do vigário de Barra Bonita, resolveu nomeá-lo para a paróquia de Catanduva, onde chegou em nossas terras no dia 28 de abril de 1918.
Fonte de Pesquisa:
- Centro Cultural e Histórico Padre Albino
Fotos:
Ilustração alusiva à Proclamação da República Portuguesa, implantada no dia 05 de outubro de 1910. Uma das principais mudanças foi a separação entre o Estado e a Igreja
Local em que Padre Albino nasceu em 21 de setembro de 1882, e viveu por vários anos, na cidade de Codeçosso – Portugal
Foto tirada no dia de sua ordenação sacerdotal, em setembro de 1905, na cidade de Braga, Portugal. Albino tinha 23 anos de idade
Família de Padre Albino: Sr. Avelino Alvs da Cunha e Silva (pai), Dona Ana Joaquina da Mota e Andrade (mãe) e Dona ? (tia), na escadaria da casa de Vila Pouca, em Codeçosso, Portugal
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