Os riscos da superproteção parental

A superproteção parental é uma prática comum, muitas vezes motivada pelo desejo de evitar que as crianças enfrentem dificuldades. No entanto, essa abordagem pode ter consequências negativas significativas para o desenvolvimento infantil. Os pais frequentemente trazem seus filhos para a psicoterapia esperando uma solução rápida para problemas que muitas vezes têm raízes na própria dinâmica familiar.

No cerne do conceito de saúde mental, flexibilidade e autonomia são fundamentais. Quando uma criança é criada em um ambiente superprotetor, ela é impedida de desenvolver essas qualidades essenciais. Um caso ilustrativo é o de Priscila (nome fictício), uma advogada de 49 anos, financeiramente bem-sucedida, mas emocionalmente dependente de um parceiro abusivo. Priscila se sente incapaz de tomar decisões cotidianas, como escolher um curso de pós-graduação ou decidir onde aplicar seu dinheiro. Grandes ou pequenas escolhas eram angustiantes, pois a moça não “treinou” esta habilidade durante seu processo de desenvolvimento.  

A terapia do esquema, desenvolvida por Jeffrey Young na década de 1990, postula que padrões de comportamentos se formam na infância através de excessos ou faltas nas atitudes da parentalidade. No caso de Priscila, a superproteção de seus pais impediu o desenvolvimento de seu senso de competência e autonomia. Eles faziam tudo por ela, desde escolher suas roupas até completar seus trabalhos escolares, resultando em uma percepção de incompetência que persistiu na vida adulta. 

A superproteção pode levar ao desenvolvimento de esquemas de dependência e incompetência, onde o indivíduo se sente inadequado para enfrentar problemas cotidianos. Isso pode resultar em transtornos de personalidade, ansiedade e depressão. Priscila, por exemplo, desenvolveu um transtorno de personalidade dependente, acreditando que não poderia sobreviver sem seu parceiro abusivo. 

Uma pesquisa conduzida por Nicole Perry na Universidade de Minnesota acompanhou 422 crianças dos 2 aos 10 anos. O estudo revelou que crianças excessivamente controladas pelos pais tiveram dificuldades na regulação emocional e nas relações interpessoais. Em contraste, aquelas cujos pais promoviam maior independência apresentavam melhor regulação emocional e relacionamentos afetivos mais saudáveis. 

A superproteção, embora bem-intencionada, pode ter efeitos adversos profundos no desenvolvimento infantil, criando adultos que lutam com a dependência e a incompetência. É essencial que pais e cuidadores promovam a autonomia desde cedo, permitindo que as crianças desenvolvam a confiança e a capacidade de tomar decisões por si mesmas.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp