Os primeiros líderes do Executivo e Legislativo de Catanduva

E dentre uma série de figuras políticas importantes que fizeram história em Catanduva, hoje quero retratar dois grandes líderes que ajudaram a construir a história inicial de nossa cidade, num momento onde o município de Catanduva tinha acabado de nascer: Ernesto Ramalho, o primeiro prefeito da cidade e coronel Joaquim Delphino Ribeiro da Silva, o primeiro presidente da Câmara Municipal de Catanduva.

A primeira eleição em Catanduva ocorreu em 02 de março de 1918, antes mesmo da instalação do município de Catanduva, o que veio ocorrer em 14 de abril de 1918, nas dependências do antigo Clube Sete de Setembro, que se localizava na esquina das ruas Brasil e Paraíba. Isso pode parecer estranho, em um primeiro momento, mas o que muitos desconhecem é que o município de Catanduva já tinha sido criado no dia 14 de novembro de 1917, através da lei Nº 1.564.

Executivo

Nesta primeira eleição da cidade, o sistema eleitoral vigente era diferente se comparado aos tempos atuais: não se votava no prefeito municipal, mas sim apenas nos vereadores, e entre os eleitos, eles escolhiam quem desempenharia a função do Executivo, ou seja, quem ocuparia o cargo de prefeito municipal.

Dentro dessa escolha, o Sr. Ernesto Ramalho, sendo eleito com os demais vereadores, acabou sendo escolhido para o cargo, se tornando o primeiro prefeito de Catanduva.

Ramalho já tinha sido sub-prefeito na antiga Vila Adolpho, pertencente à São José do Rio Preto, em 1917 e ocupou o cargo como prefeito na cidade de Catanduva de 14 de abril de 1918 até 13 de junho do mesmo ano, quando se afastou para ocupar o cargo de coletor na Coletoria de Rendas Estaduais, inaugurada em 23 de maio de 1918.

Nesses dois meses frente ao Executivo, procurou dar os primeiros passos no sentido de consolidar a nova unidade administrativa.

Foi reeleito em 15 de janeiro de 1923, ocupando novamente o cargo de prefeito até 15 de janeiro de 1923, ocupando o cargo de vereador em 1924.

Foi ele o responsável pela contratação de Gattaz Nemer Maluf para o serviço de iluminação pública por vinte anos, além de participar da Comissão Organizadora para a construção da Santa Casa de Misericórdia.

Legislativo

Já para ocupar a primeira chefia do Legislativo de Catanduva, foi eleito o coronel Joaquim Delphino Ribeiro da Silva, onde exerceu o cargo até 1925.

Nascido na cidade de Caconde – SP, exerceu em sua vida atividade de agricultor, vindo para Catanduva no início do século XX para tomar posse de terras compradas pelo seu pai, o Sr. João Francisco Ribeiro da Silva.

Foi ele proprietário da fazenda São Thomé, que se localizava na região entre Catanduva e Itajobi, além de ainda possuir uma fazenda em sua cidade natal, Caconde – SP, com o nome de Fazenda Barra Grande. Por conseqüência do nome desta fazenda, coronel Joaquim era conhecido pelo apelido de Quincas Barra Grande.

Joaquim, juntamente com seu filho Octaviano Ribeiro Sobrinho, doou praticamente todo o madeiramento necessário para a construção da Igreja Matriz de São Domingos.

O primeiro discurso

Mesmo sendo o coronel Joaquim Delphino Ribeiro da Silva o primeiro presidente da Câmara Municipal de Catanduva, não foi ele o primeiro vereador a fazer o primeiro discurso da Casa de Leis.

O feito histórico foi realizado pelo Sr. Adalberto Bueno Netto, que falou em nomes de seus pares em 14 de abril de 1918. Interessante perceber que no final da fala, ele faz alusão ao conflito mundial que estava ocorrendo na época, a Primeira Guerra Mundial. Abaixo o primeiro  discurso proferido na Câmara Municipal de Catanduva:

“Exmo. Sr. Dr. Lafayette Salles:

Exmas. Senhoras:

Meus senhores.

Depois dos eloquentes oradores que com frases belíssimas se fizeram ouvir, é meu dever difícil vir aqui dar desempenho à incumbência que me fez dizer-vos algumas palavras neste ato.

Sinto-me quase que incapaz para diante de tão seleto auditório, onde a arte da palavra tem excelsos cultivadores, vir em nome dos vereadores eleitos e empossados de Catanduva, apresentar-vos seus agradecimentos e o seu programa administrativo (...)

É enorme, é indizível a satisfação que sinto ao me dirigir a vós em nome daqueles que tiveram a honra de serem os depositários da vossa confiança, os sufragados por um eleitorado nobre, altivo e independente que, no desempenho do sacrossanto direito do voto, soube proceder como bons cidadãos, como filhos dignos por nascimento ou por direitos, de uma pátria imaculada como a nossa.

Para nós, que vimos com interesse lutando pelo progresso e desenvolvimento local, o vosso gesto do dia 2 de março, concorrendo às urnas coadjuvando assim para que aqui fosse implantada a administração municipal demais necessitada, foi um grande conforto, é motivo de justo júbilo e será um incentivo para que na fase da vida deste município que hoje se inicia, procuremos sempre manter a norma de conduta que traçamos, nos esforcemos para corresponder à confiança com que nos distinguistes. A vós nossas saudações, nossos agradecimentos (...)

A par de todas as necessidades nela apontadas, cuidaremos com afinco de fazer desaparecer esse bairrismo pernicioso que por motivo de ordem meramente política, aqui se pretende implantar, e mais que isso ainda, demonstraremos com fatos e não com palavras que, quer como políticos, quer como administradores, não faremos distinção entre o nacional e o estrangeiro, porque perante as nossa leis todos temos os mesmos direitos, somos iguais e combateremos sem tréguas o nacionalismo gerador da desordem, da anarquia.

Procuraremos sempre em prol da harmonia e do progresso local nos acercarmos daqueles que, embora não fazendo parte desta edilidade, com suas opiniões, com seu tirocínio e com prestígio, possam auxiliar-nos no desempenho de nosso encargo.

Os nossos atos administradores serão sempre a maior publicidade e com prazer os submetemos a crítica de nossos concidadãos, procurando sem constrangimento, corrigir os erros que possamos cometer, acatando todas as opiniões sensatas, desprezando a crítica interesseira que só visa o mal estar geral de um proveito de uma parcela diminuta da coletividade.

Ao assumirmos neste momento a direção deste município, temos diante de nossos olhos o maior cataclisma que se deu no universo, fruto da ambição de predomínio de uma nação poderosa que, desconhecendo os direitos dos outros países do mundo inteiro, desprezando os princípios de humanidade implantou uma guerra universal.

Transportando esse honroso quadro para cá, concluiremos que assim como na Europa a ambição de um povo trouxe a guerra, a desgraça mundial, assim também aqui as ambições pessoais poderão originar a desorganização, o atraso, a decadência de um município zela pela sua posição geográfica, pela uberdade de suas terras, pelo amor de seus filhos ao trabalho e pelas riquezas naturais que possui, tem o direito de um lugar de destaque no concerto das municipalidades paulistas e nós esperamos poder consegui-lo.

Para isso trabalharemos com ardor pelo seu engrandecimento, preterindo os direitos da coletividade aos pessoais e zelando de nosso nome público como do particular, esperando poder corresponder à confiança e ao apoio que os nossos munícipes nos têm dispensado, trabalhando sempre guiados pela nossa divida que é ‘Progresso, Equidade e Justiça’”.

Fonte de Pesquisa:

 - Revista A Feiticeira, de junho de 1971, página 66, ano VII, número XXIX

Fotos:

Foto da instalação da 1ª Câmara Municipal de Catanduva, no dia 14 de abril de 1918. Naquela época, a Câmara contava com apenas seis vereadores. Na foto temos oito pessoas, pois além dos vereadores, estavam na cerimônia o Dr. Lafayette Salles, juiz de Direito da cidade de São José do Rio Preto, além do escrivão do juízo da comarca

O primeiro discurso feito por um vereador na Câmara Municipal de Catanduva foi proferido pelo Sr. Adalberto Bueno Netto, na cerimônia de instalação, representando todos os demais vereadores. Nesta foto, datada de 31 de agosto de 1935, vemos um jantar oferecido aos senhores Ranulpho Pinheiro Lima e Francisco Machado Campos, onde temos algumas figuras importantes da época, como Dr. Renato Bueno Netto, Coriolano de Oliveira Mello, Adalberto Bueno Netto, entre outros

Coronel Ernesto Ramalho, o primeiro prefeito de Catanduva, escolhido entre os vereadores. Naquela época, o povo votava nos vereadores e entre eles era decidido quem desempenharia a função do Executivo

Quadro do primeiro presidente da Câmara Municipal de Catanduva, Coronel Joaquim Delfino Ribeiro da Silva. O título de coronel, muito utilizado na época, não tinha significado militar, apenas designava relação de poder, principalmente utilizado em grandes proprietários de terras

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.