Os pais e seus filhos

Ser sonhado, significa participar da vida mental do outro, existir para o outro.

 

O nascimento de um filho muda completamente a rotina e a vida dos pais que neste momento são inseridos numa experiência que necessita de tempo e aprendizado, conquistas que podem ocorrer ou não.

Para que ocorra, um bebê deverá se tornar filho de alguém que possa se dedicar a tarefa de recebê-lo e que queira se tornar pai ou mãe dele.

Enquanto o bebê nasce com preconcepções do encontro com alguém que o ampara, do outro lado deverá existir alguém que o recepciona para que sua experiência não seja frustrada e não crie dificuldades significativas para seu desenvolvimento.

Pais e filhos se reconhecem e estabelecem vínculos enquanto as tarefas diárias são realizadas: ninar, trocar fraldas, dar de mamar, fazer dormir, aprender sobre seu funcionamento e singularidade.

Enquanto para Freud o pai é inserido no complexo de édipo, para Lacan ele é configurado como um terceiro que tem o papel de proteger seu filho da relação simbiotizada com a mãe e que lhe mostra um mundo para além das necessidades primarias.

Atualmente vivemos numa sociedade representada por pais que trabalham fora de casa e a sustentam, nos fazendo constatar que a participação de ambos na divisão de tarefas é um grande norteador para uma sociedade que se alinha às urgências contemporâneas.

Os pais devem se desdobrar na educação dos filhos tendo presente que sua função ocupa um espaço mental na vida deles que, quando realizada de maneira satisfatória, e tendo presente que toda relação se constrói a partir do empenho diário e colaboração da dupla, proporcionará a seus filhos um desejo de autonomia e individualidade.

A importância de ambos para os filhos é tão fundamental que a falta de experiências concretas e simbólicas entre eles poderão interferir na maneira como os filhos se orientam no mundo, ocasionando danos que poderão interferir na escolha profissional, desejo de autonomia, etc.

Cada vez mais constatamos modelos de famílias com a presença de pais separados que esquecem seus filhos ou enfraquecem a imagem do outro, muitas vezes  fixados por magoas que se acumularam durante o casamento, assim como a presença de novos ou novas companheiras que dificultam a convivência entre os pares anteriores e seus filhos, e contribuem para uma desorganização interna nos mesmos que se sentem sem bússola para orientar a própria vida.

Pais separados precisam estabelecer diálogos possíveis tendo presente que quando os filhos nasceram, eles estavam vivenciando um “querer juntos”.

Existir na vida dos filhos, significa participar de sua rotina, construindo, restabelecendo, desejando conviver para além dos deveres jurídicos e de sociedade.

Não existem ex filhos e nem ex pais. Em qualquer configuração familiar serão sempre filhos daqueles pais que um dia o desejaram, o desejam, e isto é para sempre.

Música “I Wish You Love” com Nancy Wilson.

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Edgar Maluf @edgar.maluf ©