Os muitos cognomes de Catanduva

Amanhã, dia 14 de abril, Catanduva completará mais um ano de existência, ou seja, nossa querida cidade irá assoprar as velinhas do seu 107º aniversário. E é obvio que quem nasce em Catanduva é catanduvense e todo bom catanduvense sabe que o cognome ou apelido da cidade é “Cidade Feitiço” e, portanto, seus habitantes também são conhecidos como “feiticeiros”. Esse, inclusive, foi um dos assuntos que conversei com algumas pessoas nesta semana de comemoração e, por isso, gostaria de ilustrar minha coluna fazendo referência ao termo.
Outras denominações
Antes, porém, de entendermos o início da utilização do termo “Cidade Feitiço”, vamos lembrar algumas outras denominações que nossa cidade já recebeu, citadas em artigo da Revista Feiticeira, ano IV, Nº XX, de março de 1969:
“Estamos chegando ao final do Ano do Cinquentenário (Abril de 1968 – Abril de 1969). Nesses cinquenta anos de vida autônoma, Catanduva, graças aos esforços de pessoas abnegadas que querem ver o seu progresso sempre crescente e ao espírito sempre acolhedor de seu povo, passou por diversas fases, onde seu prestígio, ora mais, ora menos, atingiu os mais diferentes setores, elevando alto, no Estado e no País, o nome de nossa querida cidade.
Toda essa sua vitalidade e desenvolvimento se devem principalmente às terras férteis de nossa região que são bem aproveitadas pelos lavradores e também às entidades de nossa cidade que não poupam esforços para que ela caminhe a passos largos para um grande progresso.
Só para exemplificar, Catanduva, em diversas épocas, recebeu cognomes especiais, dependendo do alcance de suas inovações, empreendimentos ou conquistas.
Desde há muito (década de 1940), recebeu o título de “Melhor Carnaval do Interior”, porque aqui realmente nas épocas momísticas sabia-se e sabe-se realmente brincar. Tanto esse apelido ficou arraigado que graças ao seu carnaval, Catanduva é considerada cidade turística desde 1965, junto com a Igreja Matriz.
Por volta de 1954, grande campanha (iniciativa do Juiz de Direito Dr. Antonio Gabriel Marão) foi feita na cidade e a ela aderiram quase todos os comerciantes. Foi uma campanha de aquisição de bandeiras brasileira e paulista. Nas datas cívicas, toda a Rua Brasil, principalmente, ficava embandeirada. Logo veio outro apelido. “Cidade das Bandeiras”.
Passado alguns anos, recebeu outro cognome, “Terra dos Cafés Finos” e com justa razão, pois foi aqui que nasceu a famosa campanha nacional para salvar a cafeicultura – a Campanha dos Cafés Finos.
Quando chegamos em 1963, nossa região ficou colocada em 1º lugar no país como produtor de milho. E não demorou nada para que se passasse a ser conhecida também como a “Capital do Milho”.
Mas não é só no setor agrícola e cultural que recebemos cognomes. Também no social e caritativo.
No social, basta lembrar a bonita vitória conseguida pela catanduvense Mariluce Facci dando à nossa cidade o título máximo de beleza do Estado de São Paulo (Miss São Paulo). E nesse ano de cinquentenário ostentamos o galardão de “Capital da Beleza”.
E no setor caritativo, quem leu nos jornais no começo do mês, pôde observar uma reportagem feita sobre o Lar da Criança “Lola Zancaner”, como outras reportagens já haviam sido feitas sobre o trabalho de nosso querido Padre Albino, sempre tentando beneficiar os pobres e os desamparados. Nessa reportagem sobre o Lar da Criança, o articulista acabou chamando Catanduva de “Capital da Bondade”, salientando que aqui “ninguém sofre sozinho”.
Finalmente, enquanto outros cognomes não aparecem ou os que existem caiam no esquecimento da população, um se mantém firme e irredutível: é o caracterizado por toda Catanduva, “Cidade Feitiço”. E todo o catanduvense se orgulha de ser feiticeiro. E esse, temos certeza, é o que ficará para sempre, porque os que aqui chegam ficam enfeitiçados e quando partem, logo sentem vontade de voltar e os que ficam, nunca mais querem partir.”
Por que Cidade Feitiço?
Com o passar do tempo, Catanduva ainda recebeu outros apelidos carinhosos após a publicação da reportagem descrita acima, como, por exemplo, a Capital Nacional dos Ventiladores. Em jornais mais antigos também é possível encontrar outros termos, como por exemplo, Princesinha da Araraquarense e Cidade Majestosa, apelidos que foram citados na década de 1930, mas que não ganharam o gosto popular.
Agora, em relação ao termo cidade feitiço, a primeira aparição escrita do termo vem de um professor de Catanduva, Geraldo Corrêa, que, por volta de 1943, utilizou o termo em um artigo publicado no antigo jornal A Cidade.
Porém, o que se sabe ao certo é que o autor do cognome foi o jornalista Nair de Freitas, possivelmente por esta época. Como nesse período Catanduva possuía ótimos oradores, além de receber tantas personalidades com esses dotes de oratória, qualquer reunião cívica, social, política, associativa, cultural ou religiosa era oportunidade para se fazer grandes discursos, de impacto. Então, possivelmente, numa dessas ocasiões em que o jornalista Nair de Freitas discursava exaltando as qualidades de nossa cidade, deve ter dado ênfase ao termo “Cidade Feitiço”, que caiu no agrado dos ouvintes que o passaram adiante, sendo utilizado até os dias de hoje.
Tanto que após a morte de Nair de Freitas, em 17 de junho de 1985, a imprensa trouxe inúmeros tópicos atribuindo a ele a criação do slogan “Cidade Feitiço”. Como exemplo podemos citar o Jornal Opinião, de 18 de junho de 1985, que traz: “(...) Nair de Freitas criou a célebre denominação de “Cidade Feitiço” para Catanduva, pois acreditava que a cidade fascinava seus visitantes, cativando-os com sua magia”. Outro trecho no jornal A Cidade, de 23 de junho de 1985, “(...) Nas páginas internas desta edição, alguns fatos marcantes da vida do jornalista Nair de Freitas, bem como vários de seus memoráveis discursos, mostrando todo o seu grande amor a esta comunidade, que ele carinhosamente cognominou de “Cidade Feitiço”. Nair de Freitas morreu sem ser cidadão catanduvense por lei, mas foi por opção do seu próprio coração”.
Repercussões do termo
Quem pesquisar em sites o termo “Cidade Feitiço”, encontrará, além de muitas informações, também aquele significado de que é uma cidade com um povo acolhedor que enfeitiça as pessoas, sem contar as maravilhas da cidade e as belezas das jovens feiticeiras. E quem bebe de sua água, sempre volta ou então aqui fica para sempre.
Para comprovar que o catanduvense é mesmo “feiticeiro”, basta dar uma rápida olhada em estabelecimentos comerciais, agremiações, entidades, entre outros, que é possível encontrar o termo ou o símbolo da bruxinha ou feiticeirinha estampado em seus nomes ou símbolos, como por exemplo na Associação de Capoeira Cidade Feitiço; no 205º Grupo Escoteiro Cidade Feitiço; no Centro Acadêmico Emílio Ribas, da FAMECA; no Clube Filatélico e Numismático de Catanduva; na Prefeitura Municipal de Catanduva, durante a administração do prefeito Carlos Eduardo de Oliveira Santos (1993-1996); no Clube Atlético Cidade Feitiço; nos Feiticeiros do Asfalto; no Grêmio Catanduvense de Futebol; na Revista Feiticeira; entre outros inúmeros estabelecimentos dos mais variados aspectos em nossa cidade.
E para encerrar a importância do termo, nada melhor do que citar o trecho final do Hino de Catanduva, de autoria de José Carlos de Freitas, escolhido por concurso público realizado pelo Departamento Municipal de Cultura, em 29 de março de 1996: “(...) Catanduva, Cidade Feitiço, quem pisa teu chão não esquece jamais. Teu feitiço é mais que um encanto que inspira meu canto de amor e de paz.”
Fonte de Pesquisa:
- Boletim Só 10, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, ano II, Nº 20, de agosto de 2007.
- Revista Feiticeira, ano IV, Nº XX, de março de 1969.
- Jornal Opinião, de 18 de junho de 1985.
- Jornal A Cidade, de 23 de junho de 1985.
- Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino
Foto: Antiga revista Feiticeira, que por muito tempo circulou na cidade de Catanduva. De acordo com pesquisa realizada pelo historiador Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli, existem mais de uma centena de textos, poesias e documentos que fazem referência ao termo “Cidade Feitiço”. (Foto: Florence Manoel)
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