Os irmãos que quase ficaram milionários

Era o dia 07 de novembro do ano 2000, uma segunda feira. O dia amanheceu ensolarado no quarteirão comercial da Rua 13 de Maio, logo abaixo da Rua Minas Gerais. O irmão mais velho abriu a porta francesa, também conhecida como porta vertical de correr, do pequeno estabelecimento, pronto para iniciar as atividades do dia e aguardando os primeiros clientes. O final de semana tinha sido tranquilo sem nenhum chamado de emergência que surgia sempre com algum incidente doméstico ou em veículo. Ao abrir a gaveta do balcão deu de cara com um pequeno papel onde estavam anotados os números 19, 24, 33, 47, 50 e 60 que havia pedido para o irmão mais novo apostar no sábado. Ligou na lotérica Rubol e perguntou o resultado do sorteio de sábado da megasena. À medida que ia anotando os números sentiu um frio na barriga e não pode acreditar. Não podia ser verdade – os números sorteados coincidiam exatamente com os números que pedira para o irmão jogar no sábado. Agora era só esperar ansioso a chegada dele para juntos dividirem o prêmio que era superior a R$ 23 milhões (R$ 93 milhões o valor atual). Não tardou e eis que ele chega. Antes mesmo do bom dia veio a pergunta – onde está o volante da aposta da megasena de sábado? Está aqui no bolso, respondeu. Realmente o volante era o do concurso 244 do dia 04 de novembro do ano 2000 e os números apostados praticamente os mesmos, porém com um pequeno detalhe. E, aí é que esse detalhe poderia ter mudado o destino de ambos. O irmão mais novo antes de registrar os números que lhe foram entregues, observou que o 47 havia sido sorteado no concurso anterior e que o 13, que era um número de preferência de ambos, não constava do jogo. Então, simplesmente substituiu o 47 e alterou o jogo apostando nos números 13, 19, 24, 33, 50 e 60. Ao constatar essa inopinada alteração, o irmão mais velho quase foi à loucura, já que poderia dividir com o irmão, como únicos ganhadores, o prêmio de mais de R$ 23 milhões, ou simplesmente R$ 93 milhões em valor atual. Detalhe: como não houve ganhadores o prêmio acumulou à época para R$ 27 milhões. Ao invés do prêmio milionário, a fatídica e desafortunada alteração fez com que os irmãos fossem uns dos 204 ganhadores da quina que pagou o prêmio para cada acertador de apenas R$13.698,03 (pouco mais de R$ 55 mil em valor atual). O 13 que é um número místico, nesse caso, conspirou contra a sorte dos irmãos. Nem por isso eles deixaram de permanecer juntos e unidos, continuando com o ofício que herdaram do pai, que foi um dos pioneiros na cidade. Contudo, após mais de meio século prestando serviços no centro da cidade, resolveram fechar o estabelecimento para viver modestamente, como sempre viveram, porém agora contando somente com os parcos recursos da aposentadoria. Fato é que, nessa história, mesmo após decorridos 23 anos, a profecia do 13, como número do azar, se materializou, para o infortúnio dos dois irmãos.

Autor

José Carlos Buch
É advogado e articulista de O Regional.