Os Estados Unidos entram em Guerra Civil com Wagner Moura

O filme Guerra Civil, em exibição em Catanduva no CineX, está liderando as bilheterias americanas e é um sério candidato ao Oscar do ano que vem. Ele se passa num futuro próximo, em que o país está imerso numa guerra civil ainda mais divisível do que sofrida pelos EUA no século XIX, entre Norte e Sul. O filme não se aprofunda nessa divisão, falando em conflitos entre as “forças ocidentais”, mencionando certa “aliança da Flórida”, repúblicas independentes da Califórnia e Texas, além dos estados legalistas, que se mantém fieis a Washington.   

Entretanto, as coisas não parecem ir muito bem para o antigo governo americano, e o Distrito Federal está praticamente em vias de ser ocupado e o presidente (Nick Offerman), derrubado. O cenário de guerra civil é constante, mas quase que um pano de fundo para um road movie em que vemos um grupo de jornalistas e fotógrafos de Nova York, cruzando a frente de guerra, numa tentativa de entrevistar o presidente americano antes que ele caia. 

Eles cruzam territórios entregues a batalhões de soldados ou milicianos, que controlam cada trecho como gangues, cometendo todo tipo de abuso e crimes de guerra, como execuções e genocídios e escapam por pouco de diversas situações de perigo.

Dirigido pelo britânico Alex Garland (Aniquilação, 2018 e Ex-Machina: Instituto Artificial, 2014), é estrelado pelo brasileiro Wagner Moura como Joel, um jornalista americano obviamente de origem latino-americana – como pergunta a ele sob a mira de arma, um miliciano americano loiro que poderia estar usando um boné do Trump. O filme não faz menção às razões da divisão americana, mas elas parecem patentes no extremismo atual, em cada ato e personagem do começo ao fim. 

O núcleo central de personagens, além de Moura, é composto por Lee (Kirsten Dunst), experiente fotógrafa de guerra, o veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson) e a novata Jessie (Cailee Spaeny), que segue os passos de Lee.

O filme é marcado por uma tensão constante entre cenas do velho Estados Unidos, decadente, perdido no passado, e outro atual que mais parece a Palestina ou a Ucrânia, com tiroteios, explosões, aviões bombardeando e destroços.

Com sequências fortes e marcantes, Guerra Civil parece ecoar a atual polarização americana (e não só ela), uma sociedade em que não há mais diálogo entre as partes. Talvez como já tenha acontecido no passado, na guerra civil americana (1861-1865) que custou 20 milhões de mortos naquela época, entre a União e os Confederados. Lembrando que, quando da invasão do Capitólio em 2021, muitos carregavam a bandeira cruzada dos revoltosos.

Entretanto, o filme evita explicar e apontar contextos ou passar mensagens, não deixando espaço para o conforto até o fim.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.