Os aeroportos de Catanduva

Um dos assuntos que mais estavam em alta lá pelos anos de 1939/1940, quando o mundo se defrontava com os ataques traiçoeiros de Hitler, era sem dúvida a aviação.

De todos os lados do planeta surgia a ideia de se incentivar ao máximo a formação de jovens aviadores. O movimento crescia, e no Brasil ele já era visto com bons olhos, uma vez que a aviação nacional tinha fins pacíficos.

Naquela época, Catanduva já despontava com um dos maiores centros de nosso Estado e tinha que acompanhar a grande evolução que o mundo passava. Era preciso que o progresso aqui continuasse a todo o vapor, abrangendo todos os setores da vida comunitária.

Foi com essa ideia de avanço e progresso, que um grupo de bons catanduvenses se reuniram no dia 20 de janeiro de 1940, no salão do Banco do Brasil (que funcionava na Praça da República, onde hoje se encontra o Banco Itaú), às 20 horas, para fundarem o Aeroclube de Catanduva.

Nessa reunião, procedeu-se a aprovação do estatuto e elegeu-se o Conselho Deliberativo, com seus respectivos suplentes. No dia seguinte, em nova reunião, foi eleita a primeira diretoria que era composta pelo Sr. Antonio Halmalo Silva, presidente; Dr. Ângulo Dias, vice-presidente; Euclides Pereira e José Floriano Martins, 1º e 2º secretário; José Cunto e Dr. Henrique Smith, 1º e 2º tesoureiros.

A ideia principal não era só a criação de uma pista de pouso local, mas sim a formação de pilotos, contribuindo para elevar cada vez mais os índices educativos e profissionalizantes da juventude catanduvense.

Logo nos seus primeiros meses, a diretoria buscou regulamentar a legislação e obter o terreno para o seu campo de aviação. Autorizado a funcionar, por ato do Aeroclube do Brasil, conseguiram os seus fundadores um grande terreno no espigão da Fazenda São José, o melhor ponto que encontrou, sendo doado pelo senhor Ricardo Lunardelli, que posteriormente recebeu o título de presidente honorário do Aeroclube de Catanduva. O campo também alcançava um pedaço do terreno da propriedade agrícola do senhor José Pedro da Motta Filho, que também lhe cedeu de bom grado a faixa necessária. Ambas as terras continham grande plantação de café.

Porém, o que muita gente não sabe é que logo no início o aeroclube não funcionava no local onde o conhecemos hoje. Em seu começo, o aeroclube funcionava numa área de declive do outro lado da rodovia Washington Luiz.

A mudança se deu por causa do tamanho do aeroporto, já que esse primeiro possuía 600x100m e era pequeno para poder receber aviões de tamanhos maiores.

Diante disso é que se deu a construção de um novo aeroporto, com dimensões maiores do que o primeiro, possuindo 1200x40m.

O novo aeroporto

A inauguração deste novo aeroporto foi um fato muito importante para a cidade de Catanduva.

A festa de inauguração coincidiu com a abertura das novas linhas da Real na cidade, ligando Catanduva com uma linha direta para São Paulo e se deu em 28 de julho de 1951.

O nosso saudoso Padre Albino foi o responsável por dar a bênção, onde o evento ainda contou com a presença do Brigadeiro Henrique Dyott Fontenelle, diretor da Aeronáutica Civil e sua esposa, oficial que veio representando o Ministro da Aeronáutica; junto dele se deu a presença do Comandante Pessoa Ramos, do 1º Grupo de Caças, herói da FAB na Itália, além de inúmeras outras pessoas ilustres.

À noite, para fechar com chave de ouro a inauguração do novo aeroporto, efetivou-se um baile de gala no Clube de Tênis, o conhecido Baile da ASA, onde a senhorita Miraides Baldusse foi coroada como a Rainha da ASA de 1951.

O asfalto

Mesmo com toda a sua infra-estrutura dentro dos padrões estabelecidos, um dos problemas enfrentados pelo aeroclube foi a pista de pouso ser de terra.

Em 1960, a pista tinha 1.420 metros de comprimento por 120 metros de largura, contando o aeroclube com dois hangares de 40x40 metros, além de uma estação aeroviária recentemente construída.

A pista vinha servindo para linhas domésticas da Vasp e da Real, quando vistoriadas para operações de linhas comerciais, homologadas para aviões de tipo C-46 e C-47. Além dessas aeronaves, a pista servia para pousos de pequenos táxis aéreos e aviões da escola de pilotagem do aeroclube local. Entretanto, nas épocas de chuva, precisavam ser suspensas todas as atividades do aeroclube, por consequência da pista ser de terra, que abria alguns buracos, se tornando imprópria para os pousos e decolagens.

O prefeito da época, Antônio Stocco enviou ofício para o então presidente do Brasil na época, Juscelino Kubitschek pedindo ajuda para o asfaltamento da pista do aeroclube, que acabou sendo realizada tempos mais tarde.

Houve ainda a construção de um terceiro hangar, inaugurado em 23 de outubro de 1977.

Novo aeroporto

Outra coisa que muita gente também desconhece foi a intenção de se construir outro aeroporto em Catanduva, esse de âmbito internacional.

A iniciativa se deu pelo então prefeito da época José Alfredo Luiz Jorge, que acabou montando uma comissão para a efetivação da construção.

Um dos problemas principais do projeto foi qual seria o terreno para a construção, já que o novo aeroporto teria 2.500 metros de extensão, apta para receber aviões de grande porte.

De acordo com jornais da época, seriam desapropriados pela prefeitura municipal 39 alqueires de terras, pertencentes à Usina Catanduva, em terreno que se encontrava nos altos do bairro São Francisco.

Porém, depois de tanta correria, o projeto acabou não saindo do papel.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Centro Histórico e Cultural Padre Albino

 

Foto do Aeroclube em meados dos anos 80. Nota-se ainda vários pés de café atrás do aeroclube, onde hoje se encontra uma ampla avenida e várias residências (atual bairro Agudo Romão) 

 

Foto do Brigadeiro Fontenelle (canto esquerdo) com o Sr. Antônio Stocco e Sr. Gentil de Ângelo, no dia da inauguração do novo aeroclube, em 28 de julho de 1951 

 

Senhorita Miraides Baldussi, a Rainha da ASA de 1951, no baile de gala que aconteceu no Clube de Tênis

 

Uma das primeiras fotos do aeroclube local, datada do início dos anos de 1940, onde encontram-se visitantes e alunos do curso de aviação.

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.