Opinião, eu quero uma pra viver?
Na Era da Virtualidade, cada conta do Facebook, do Twitter, do Instagram, do YouTube, etc, tornou-se uma pequenina Rede Globo, uma diminuta Folha de S. Paulo, uma nanica Record, uma microscópica BBC. Hoje, a rede social é menos rede que conecta e mais mídia que formata: interliga socialmente menos as pessoas enquanto as informa mais, intermediando a formação de conhecimentos e de convicções (sobretudo ideológicas) através de notícias, aparentes notícias, supostas notícias e falsas notícias. Qualquer um pode postar qualquer coisa e, então, criar confusões em efeito dominó. Tudo bem, a priori. Nada de errado com esta liberdade. Nada mesmo.
Mas... a sabedoria ensina que “em boca calada não entra mosca.” É tentador, a partir da nossa conta nas redes sociais, pontificarmos opiniões como se fôssemos especialistas. É tentador parecer-se com um catedrático capaz de opinar sobre tudo e sobre todos. O polímata moderno não é um erudito trancafiado em uma biblioteca, à moda medieval, culto e enciclopédico. O sabe-tudo contemporâneo é o rei da timeline, o imperador do feed, o mestre jedi dos 280 caracteres. Ele saca da galeria do celular (o smartphone é a “torre de marfim” do século XXI) opiniões printadas em grupos do WhatsApp ou do Telegram e as posta à Esquerda, ao Centro e à Direita. Ele semeia a Internet com joio: a cizânia de nossos tempos é online.
Para quê ter tantas opiniões irrefletidas, impensadas, irraciocinadas? Não refletimos em silêncio, não pensamos em silêncio, não conjugamos o tico com o teco em silêncio. Como resultado, a opinião pela opinião está envolta em barulho: quanto maior a ignorância do inquisidor internetiano, maior a certeza e a convicção expressas no seu grito e na sua digitação em CAIXA ALTA. Mas... de quê serve uma opinião, afinal? Em termos práticos, de quase nada. Em termos de Engenharia Social, a opinião geralmente serve a pautas desconhecidas do próprio opinador. Por isto, ter uma opinião irremediavelmente fechada, estanque, lacrada a vácuo de tão inamovível, é o ferrão psicológico com que a manada moderna é marcada pelos artífices do poder. E a gente não é gado por não ter opinião, individualmente. A gente é gado quando tem a opinião mal ruminada da boiada, coletivamente; sendo boi, boiadeiro ou rei, como profetiza “A
Disparada” de Jair Rodrigues. À propósito, canta, Zé Ramalho, canta!: “O povo foge da ignorância / Apesar de viver tão perto dela.”
Melhor não ter opinião e ficar quieto. Melhor aceitar que em muitíssimos assuntos nós somos ignorantes consumados. Melhor dizer “não sei”. Melhor cruzar as pernas e os braços e dobrar a língua, exercitando paciência. Sabe qual é o lado bom de não ter opinião sobre isto, sobre aquilo, sobre tal, sobre qual, sobre quem? Ao menos quem não tem opinião não está certo nem errado. Só está (aqui, aí, ali, cá, lá), na tentativa de encontrar sabedoria, cheirando, degustando, vendo, ouvindo e tateando a Realidade, venha ela de onde e de quem vier. Estejamos abertos à não ter opinião. Estejamos, também, abertos à mudar de opinião. A razão nos pede esta elasticidade existencial.
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