O valor não é a essência

Trouxemos com exclusividade na edição de sexta-feira a notícia sobre o desconto aplicado pelo presidente da Câmara de Catanduva, Marcos Crippa, à remuneração de um servidor da casa que, ao viajar para São Paulo para acompanhar o vereador Marquinhos Ferreira, consumiu com ele três energéticos e uma barra de chocolate. Por regra, é o servidor que obtém a verba antecipada para casos de viagem e, no caso, ele tinha R$ 1.500 em mãos e apresentou notas fiscais para justificar despesas que chegaram quase à totalidade desse montante. O problema é que tais itens constantes em duas dessas notas não podem ser adquiridos com dinheiro público, conforme determinação do Tribunal de Contas do Estado, o TCE, que os considera “guloseimas”. Daí o desconto de tais valores, que somaram R$ 42,58. A reportagem repercutiu nas redes sociais e atraiu todo tipo de comentário, inclusive de defensores de Marquinhos Ferreira que optaram por atirar contra o jornal. Outros ironizaram o valor glosado, talvez por considerá-lo irrisório, indicando que há coisas mais importantes para se preocupar. E é justamente sobre esse ponto que trata este texto: o valor não é essência. A questão remonta ao ato em si. A matéria revela a decisão do atual presidente em barrar gastos que são considerados ilegais ou proibidos, que seriam enquadrados como abusivos por qualquer pessoa de bom senso. Ou será que comprar três energéticos com dinheiro público em uma viagem política para São Paulo é algo correto? Os vereadores têm salários na faixa de R$ 16 mil e seus assessores também têm bons rendimentos, sobretudo se comparado com o salário mínimo recebido pela maior parcela da população. Portanto, tais guloseimas – e tantas outras – poderiam ser custeadas com recursos próprios e ninguém estaria falando nada. O ponto é que essa não é a única viagem ao longo do mandato dos 13 vereadores. Quanto eles gastariam com bobagens se tivessem carta branca para isso, ao longo de quatro anos? Certamente o valor, hoje tido como irrisório, passaria para algo aviltante.

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Da Redação
Direto da redação do Jornal O Regional.